1 - PEGADAS
Os pés de Cristo...
De aldeão
Eram os pés de Cristo.
Santos peregrinos pés.
Ligeiros,
Incansáveis
Empoeirados.
Os pés de Deus
Nos pés de Cristo.
Arrastados para o Gólgota,
Pés no sacrifício.
Orifícios de salvação.
08/1995.
2 - ALMA INQUIETA
Minh’alma desassossegada
Tem uma minuta do seu amor.
E traz, colado a ela,
Uma xerox da alma sua.
08/1995
3 - SUB-HUMANO
Oh, tão atroz abandono!
De uma extremidade a outra
Do corpo
Vagueia minha alma.
Tanto esperneei, Senhor,
Cavei uma distância
Entre mim e ti.
Eu tão pó,
Ele Deus!
10/1995.
4 - DESILUSÃO
Ele dissecava-a
Com os olhos.
Aqueles olhos
Enrustidos de amores.
Fez um brinde e lamentou
Com o amigo de infortúnio:
- Bebamos, na mesma taça,
As lágrimas da dor
Do amor que ainda
Não veio.
12/1995.
5 - INQUIETUDE DA IMPACIÊNCIA
A ansiedade
É doidivanas
Alucinógena.
Quero é ficar
Bem quieta
E esperar por Deus,
Que vem vindo
Logo ali.
Trazendo-me tudo.
12/1995.
6 - CLARO-ESCURO
Esse cheiro meu
De mulher...
Essa lua grande...
Ora prata
Ora de uma palidez
Espantosa!
Deixa-me pequena
Deixa-me cheia
Deixa-me frágil
Deixa-me minguante
Deixa-me nada!
Nem gente me deixa ser.
02/1996.
7 - VERSÃO - à la Mário Quintana
Mário
Era um menininho
Sempre por trás da vidraça.
Forte chuva
Descia sobre ela.
Quebraram o vitral.
De susto Mariozinho
Nunca mais voltou.
Havia uma pedra
No meio de um poema cansado
Ou seria no meio do caminho
Do velho poeta exausto?
Um anjo prontificou-se:
- Removerei a pedra.
Só então a inspiração brotou.
03/1996.
8 - BLECAUTE ÍNTIMO
Em meio
A desilusão negra
Com que a noite me cobria,
Debaixo daquela árvore
Ergui a cabeça ao acaso
E em meio ao céu
Noturnamente embaçado,
Por entre
O emaranhado de folhas
Sobressaia-se
Um minúsculo
Pontinho luminoso.
Talvez não fosse estrela.
Talvez fosse o brilho
Do olhar de Deus
Que me seguia.
03/1996.
9 - A IDADE DA LOBA
O relógio biológico
Marca o nascer do sol
Quando se é menina.
Ao meio dia
É tempo de ser moça.
Não há pressa.
A vitalidade transborda.
Tudo está à mão.
Depois disso
O sol do relógio temporal
Marca o crepúsculo.
Há dentro em mim
Uma pressa desanimada
E a constatação infeliz
Que a maturidade aponta:
Pouca coisa peguei.
A essência escapou-me
Entre os dedos.
05/1996.
10 - MADALENA II
Oh, a aridez da vida...
As negativas que nos desvanecem.
Encontro-me em terra estranha,
Cheia de inacabados sonhos.
Vários homens bailam
Em meu pensamento.
Qual deles eu mais amo?
Na verdade nenhum me quer
Sinto-me a própria Raabe.
- Sim, Senhor, sou Raabe,
A prostituta.
Pegue-me pelo colarinho,
Tire-me de Jericó.
Marque-me com um fio escarlate.
Livre-me desse deserto.
05/1996.
11 - OBSTRUÇÃO I
Há tempos não faço um poema.
Fecharam-se as torneiras
Da inspiração
Apagaram-se as centelhas.
Fugiram as musas.
Oh, Jesus,
Leva-me a dar uma volta
Nos arredores dos céus.
Quem sabe na volta
Eu não tenha tanto
Para dizer.
E se eu não voltar...?
Aí é que não mais farei
Poemas mesmo.
Estarei nos braços do Grande Poeta
Nada mais hei de querer.
09/1996.
12 - AS PESSOAS E A PEDRA
Tem gente que é uma pedra que desce.
Tem gente que nasceu para atirar pedras.
Tem gente que nasceu para levar pedradas.
Tem gente que é uma pedra de tropeço no caminho de outras gentes.
Tem gente que é pedrado, marmóreo.
Tem gente que não consegue sequer tirar do caminho as pequenas pedras.
Cada pedra na nossa vida!
Tanta vida empedrada...
Tanta pedra com vida.
Removamos ou lapidemos, pois, as pedras!
09/1996.
13 - VERSÃO FEMININA
E agora, Josefa?
O tempo passou,
A idade chegou.
Amanheceu solidão.
E agora, Josefa?
Seu pai nunca ligou,
Seu irmão não lhe amou.
Adormeceu sem perdão.
E agora, Josefa?
A vida é um tédio
Quer pular de um prédio,
Mas tudo desabou.
E agora, Josefa?
Pulou de um viaduto
Não deixou ninguém de luto.
Você não é nada forte, Josefa,
O poeta lastimou.
10/1996.
14 - DE PONTA A PONTA
Na ponta do lápis
Sou dez vezes
Melhor articulada
Que na ponta da língua.
Na ponta da língua...
(como quem sussurra):
- Só beijos!
A gente filosofa mesmo
É com o lápis,
Que psicografa nossa dialética.
10/1996.
15 - EVIDÊNCIA ÍNTIMA
Eu,
Primogênita
De meus pais,
De barro não era.
Lodo!
Sentimentos
Viscosos,
Escorregadios,
Na sorte esverdeada
De má sorte.
03/1997.
16 - SELVA URBANA
Ruas vazias
Casas sozinhas.
Sozinhas?!
É difícil.
As solidões
Bem calçadas.
Arranha-céu
Não alcança
As estrelas
Imponência solitária.
03/1997.
17 - A NÁUSEA
O mundo não caberia
O meu vômito!
De repulsa de minha infindável
Solteirice solitária.
De nojo de minha mediocridade
Espiritual,
Intelectual.
De nojo dessa sociedade hipócrita.
De nojo da mesquinhez
Dessa mesma sociedade.
03/1997.
18 - FRAGILIDADE
A multidão precipitou-se
À porta do bonde.
O homem protegia
Sua amada pela retaguarda.
Primeiro as damas:
Esse gesto dizia.
A isso chamamos
De cavalheirismo.
A Bíblia já os ensinava:
Protegei-a como sexo frágil.
Ah, como sou frágil...
Puxem-me as cadeiras
Abram-me as portas
Cedam-me os assentos
Tragam-me as flores!
04/1997.
19 - O PROLETÁRIO E A SUPOSTA LADY
Princesa!
Você é tão linda!
Disse-me aquele homem
Surrado pela vida.
Era-me indiferente.
Seu franco elogio
Arrancou-me um sorriso,
Entretanto.
Quanto tempo
Não elevavam
Minha estima
À tamanha nobreza.
O céu noturno estrelado...
Eu poderia ver Deus
E sem telescópio.
04/1997.
20 - MADALENA III
Senhor!
Os homens arrastam-me!
(não fora sempre assim?)
Pediam minha carne.
Agora pedem minha cabeça.
Colocam-na a prêmio
Arrastam-me por entre
A multidão que se dispõe
A apedrejar-me.
Flagrante delito,
Fragrante maldito,
Pudesse eu delir...
Pudesse eu dormir...
Acordar só quando
Tivesse afugentado
Todos os meus acusadores.
Contudo, ouço de meu Juiz
Minha sentença de vitória
Escrita no chão:
- Mulher, tão pouco eu lhe condeno... *
05/1997.
_________________________________________
* Trecho bíblico
21 - MEA-CULPA: 1922
Tanto grunhido,
Aleatório,
Dizendo-se música.
Passos assíncronos,
Definindo-se dança.
Tanta pichação autorretratando-se
Pintura.
Tanta árvore denominada oiticica,
Sem o ser.
“Santa” Arte Moderna!
Rogai por todos,
Purgai-os a todos...
06/1997.
22 - HORROR DA VIOLÊNCIA
Ao índio assassinado
O sol
Não nascera
Para ele, jamais!
Afirmou
Um aparentado.
Perambulou
Com a vida em trevas;
Morte na claridade;
Incendiaram
A mendicância.
08/1997.
23 - DÁRIO
Minh’alma adormecida
Bebeu o santo orvalho
Da noite
Ao longe canta um
Sabiá
E traz à tona
Toda minha infância
Bem vivida.
Saudade...
Saudade do grande amor
Puro e infante
Que deixei por lá
Junto co’as demais
Lembranças.
Hoje, presa nesse cárcer
De introspecção, inda
‘Stamos bem vivos.
04/1998.
24 - ORLA RIBEIRINHA
Rio noturno
O velho Chico deitado
Era todo retina
E expunha
No brilho do olhar
O reflexo de uma
Noite só.
04/1998.
25 - J.P.
Você é ultraleve...
Mas em meu coração
Foi tão estrondoso
Quanto um Boeing.
Aqui está,
Meu poeta voador,
Um poema alado.
Onde poderá reconhecer-se.
07/1998.
26 - REDAÇÃO: “A Boca”
Daqueles lábios
Não saiam
Só beijos macios,
Suaves,
Comprimidos
E apaixonados.
Saiam loucas
Declarações
Que me iludiram,
Que me fizeram
Sofrer.
E ponto final!
Nunca mais
Quero falar
Daquela desejável
E traiçoeira boca.
11/1999.
27 - FALSIDADE
A vida, para alguns,
É uma grande encenação,
Em que é preciso viver
Diversificados papéis.
Não se limitam à mesmice
De um falso personagem
Para não se tornar canastrão.
12/1999.
28 - LUTO
Morreu o poeta
Que há em mim.
Nem fui ao enterro
Do poeta
Que havia em mim.
Nem ao funeral
De sua última quimera.
Ao dissecá-lo
As musas constataram:
Não havia centelha,
Não havia rima.
O verso livre
Já não voava.
Transcenderam-se.
12/2000.
29 - DESILUSÃO
Encontrei o amor
Para logo perdê-lo.
Nessa longa estrada
Solidão solidária.
Demo-nos as mãos
E prosseguimos.
Que companhia
Desprezível!
Teimosa.
Obstinada.
Nem um vulto
Ao longe
Para afugentá-la.
12/2000.
30 - MINHA CARTA
Deus,
Tenha piedade
De minha alma cansada.
Não a deixe por outros
Ser ultrajada.
Exaurida que está
Nesse mar de desencontro.
Permita ó Deus,
Um retorno triunfante.
Possa voltar
A minha velha alma
Acabrunhada
Uma renovada
Menina saltitante.
Terra, dezembro de 2000.
31 - ABSTRAÇÃO
Sou tela abstrata.
As cores a nada conduzem.
Labirintos de incógnitas
Indecifráveis.
Nas gotas amarelas
O suor do trabalho
Artesanal
Desse penoso poema.
O vermelho intenso
De meu sanguinolento
Abstracionismo
Desce pelos dedos
Antes de esvair
A vida
Na conclusão
Desse último verso.
12/2000.
32 - DESILUSÃO II
Chorei
Por todos
Os motivos.
Cantei
Por tão pouco.
Nesse vale
De lágrimas
Tudo o que
Mais queria
Era a presença
“Dele”.
“Aquele”...
Que só nossa fantasia
O faz completo.
Ele, enxugando
Meu pranto.
Ele, segurando
Minha mão
De menina
Enquanto auscultava
Meu aflito coração de mulher.
Ele, consolando
Minha solidão.
01/2001.
33 - MELANCOLIA DE UM ADEUS
Por que te abates
Oh, meu coração?
Descubro-te
Tão fraco
Tão triste
Tão turbado.
Descubro-me
Tão pouco poeta,
Tão chinfrim
Que não decifro
O sentimento
Que tanto te fez
Contorcer-te.
02/2001.
34 - AUTOPIEDADE
Eu, cansada,
Nos braços acolhedores de Deus,
Desato todos os nós
Que me ata a dura vida.
Choro,
Sorrio,
Lamento.
Volto a caminhar.
Prossigo rumo ao horizonte
Desconhecido.
07/2002.
35 - DESABAFO SÃO PAULINO
Miserável criatura
Que sou eu!
Quem me livrará
Do peso que tenho sido a mim mesma?
07/2001.
36 - CONTANDO AS HORAS
Desertos onde vago
A procura de meus
Oásis invisíveis.
Onde está
A minha vitória?
Quem a recolheu
De mim,
Esquecendo a devolução?
Minha vitória está nas mãos de Deus,
Ele me fará tê-la de volta.
07/2001.
37 - VEREDAS
Com meus pés tortos
Segui por caminhos
Também tortos.
Mas alinhei-me
Pelo reto prumo
De Deus.
08/2001.
38 - REJEIÇÃO
Mil pensamentos
A perseguir-me
E eu os persigo
Numa retaliação
De sondagem dos detalhes,
Decifrando-os.
Inquietação
Das ânsias.
Desprazer de viver
O designado
Estilo de vida
Que me fora
Reservado.
Rebeldes constatações
À vontade divina.
Profundo
Inconformismo
Na alma sedenta.
08/2001.
39 - CECÍLIA SEM INSTANTES
Não canto
Porque o instante
Não existe.
Por que o instante
Não existe
Choro.
Tanto interesse
Em vivenciar
Minhas inocentes
Historinhas de amor.
Mas tristemente descobri
Que do amor
Sequer tive instantes.
Não sou alegre;
Sou triste
E nem sou poeta.
Não sei se passo...
Talvez eu fique
Nessa canção
Que nada me diz.
09/2001.
40 - AUTO ZOMBARIA
Não vejo a hora de ver
Esse dia passar.
Não vejo a hora de ver
Essa semana passar.
Não vejo a hora de ver, também,
Esse mês passar.
Melhor,
Não vejo a hora de ver
Esse ano passar. Diziam:
- E você, o que me diz?
Interroguei a que estava em silêncio.
- Positivamente?
Não vejo a hora de ver
Essa vida passar.
Ironizou.
De forma deprimente.
Gargalhamos.
Tanto,
Que chegamos às lágrimas.
Não era cômico.
Era trágico!
09/2001.
41 - DERRADEIROS PASSOS
Caminho para a morte
Como quem caminha
Para a vida.
E o que há
Além da morte,
Senão a boa
Vida eterna
Que sempre cri?
09/2001.
44 - BLUE
Hipnoticamente
Nas ondas azuis
Dos olhos seus
Mergulhei.
A noite
Festejou.
Já não era
Tão noturna.
Lua cheia clareou.
Nadei na profundeza
Do azul dos olhos seus,
Temendo ser expelida
Por uma lágrima sua.
11/2001.
45 - CONTO DE NATAL
Natal é para mim
O meu conto de fadas,
Dizia a menina pobre.
Apesar do encanto
Da fantasia,
Meu conto de fadas
E o trenó
Sempre viram abóbora
No dia primeiro de janeiro
Do ano seguinte.
Ficando vivo na memória
Só o ladrar dos cães
Vira-latas de meu bairro
Periférico
Que me chamam
À realidade.
12/2001.
46 - BALZAQUIANA
Ao meu querido amigo Tião Leite, in memoriam
Beijei muitos príncipes.
Agora que o tempo passou,
Nenhum sapo me rodeia.
01/2002.
47 - O LAMENTO DAS PERDAS
Podia ter feito mais,
Não o fiz por temor a Deus.
Conscienciosa. Mérito meu.
Podia ter feito mais,
Não o fiz.
A intervenção de Deus
Chegou a tempo.
Livrou-me (graças!).
Na verdade
Nunca foi mérito meu.
02/2002.
48 - POEMA DO ARREPENDIMENTO
Primeiro descobri
Que não queria
Ter vindo à vida.
Como se não bastasse
Descobri que falhei
Durante toda minha
Renegada vida.
Vida, vida, vida...
Se dez vidas tivesse
Por dez vidas arrepender-me-ia.
02/2002.
49 - INCOMPREENSÃO
Sentei-me no topo
De minha consciência conturbada,
Contemplei o mundo e chorei.
Que mundo cão!
A vida pareceu-me interminável.
Cansei-me mais ainda.
A que vim meu Deus?
A que vim?!
02/2002.
50 - GABRIEL
Na alma aflita,
Marca indelével.
No coração
Mais que uma letra escarlate:
É tal qual um brasão
Representante dos Buendias
Nesses “cem anos de solidão”.
02/2002.
51 - BREVIDADE
A vida é uma cena,
O mundo é o palco.
Somos personagens
De nosso próprio roteiro,
Mas quem nos dirige mesmo,
É Deus!
O palco, por vezes, é triste.
A personagem é sombria.
O Diretor parece ausente
E a nada conduz.
Encerrando o único ato
Baixam-se as cortinas
Ela despede-se
E sai de cena no mundo.
04/2002.
52 - PROVAÇÃO
À margem do caminho
Deixei-me cair ferido.
Durou uma eternidade
A espera do bom samaritano.
Só Ele para curar
Com unguento minhas feridas.
Recobrando um pouco as forças
Parei na estrada de Jericó
E clamei:
- Jesus, filho de Davi,
Tem misericórdia de mim!
No poço de Betesda aguardei.
Trinta e oito longos anos!
Nenhum anjo apareceu
Para mover as águas.
À sombra do zimbro
Assentei-me e chorei:
- Basta, Senhor!
Toma agora a minha vida.
05/2002.
53 - ILUSÃO
Já nem absorvo a ilusão
Que me atiram
Gentis pessoas,
Quando afirmam
Que não pareço ter
A idade que tenho.
Sei que o tempo
Marcou-me.
Se não o veem por fora,
Eu bem o sei
Por dentro.
Nasceu minha alma
Pesando cem anos.
10/2002.
54 - ENCONTRO DIVINO
- Então, filha minha, o que se há de fazer
Por você? Quais são suas razões?
- Senhor, existe algum “artigo”, “parágrafo”
Ou “cláusula” que possa me safar?
- Sim. Apele para três: o amor, o perdão
E a misericórdia divina.
11/2002.
55 - NOTURNA
É noite no meu ser.
Pudesse eu ver meu dia
Clarear agora...
Sequer estrelas cintilam.
Poderá não resplandecer
O sol amanha.
Faz frio no meu ser.
Encolho-me em busca
Do abraço de aquecimento
Que esmoreceu.
É noite no meu ser.
01/2003.
56 - VOO INÚTIL
Andorinha,
Andorinha,
O tempo passa,
A vida voa...
Mas você,
Você continua
À toa...
01/2004.
57 - INFERIORIDADE ESPIRITUAL
Na tua Palavra,
Senhor, com humildade,
Há quem diga:
“Sou o menor
Na casa de Israel”.
E eu, Senhor,
Que nem à casa
De Israel pertenço
Senão por adoção?
01/2004.
58 - ROMANCE DA VIDA
Em apenas “Cinco Minutos”
Tornei-me “Senhora”.
Melhor que ser “A viuvinha”.
Que saudade de quando eu era “A Moreninha”...
09/2004.
59 - CORAÇÃO MÍOPE
O coração de uns
É plebeu boêmio.
Promíscuo, por vezes.
Apaixona-se por vis criaturas
E tenta convencer a razão
Ter encontrado sua cara metade.
A razão é dama aristocrática,
Nunca se deixa cegar
Por sentimentos
Que o coração, nem um pouco nobre,
Tenta enviar-lhe
Embalados num falso rótulo.
11/2004.
60 - DESCOMPASSO
Isso lá são horas
Para se escrever poesia?
Isso lá são Eras
De se querer poesia?
- Olha a tecnologia...
06/2005.
61 - QUEIXA INDEVIDA
Nos momentos de extremo desespero
Deus escrevia,
Com lentidão de perfeccionista,
Segundo minha enganosa percepção,
Os capítulos iniciais
De uma nova história minha.
06/2005.
62 - DITADURA DA BELEZA
Ô mulher bela da revista!
Sem defeito me espia.
Faz-me lembrar
De todos os meus,
Sem abrir a boca.
Como a parafrasear o poeta, parece falar:
- Ei, dona feia, beleza é fundamental!
Nem desculpa pede,
A impiedosa.
11/2004.
63 - ARREPENDIMENTO
Sabe qual vida era boa?
Lá no Éden.
Éramos tão puros...
A terra frutificava em abundância.
Não havia dores,
Conflitos,
Nem lágrimas.
No final do dia podíamos até
A suave voz de Deus ouvir.
Mas nós mudamos de vida.
Descontentamento.
Maldita serpente,
Maldita fraqueza humana.
07/2005.
64 - SENTIMENTOS
O conhecimento é filho da sabedoria.
O orgulho é pai da soberba.
A tolice é prima da ignorância.
A arrogância é irmã da prepotência.
O ódio é inimigo do amor.
Seja amigo do conhecimento,
Pois ele é filho da sabedoria.
Não namore a soberba,
Ela tem um pai terrível.
Não seja tolo, fuja da prima ignorante
Que lhe vem ao encontro.
Não queira nada com as irmãs
Arrogância e prepotência,
Elas vivem de nariz empinado.
Nessa guerra
Jamais se alie ao ódio.
Ele nunca vencerá o amor!
07/2005.
65 - MOÇORÓ
Mossoró,
Cem por cento
De sal nas almas.
Vidas salobras.
Cloreto de sódio
Petrificado nas calçadas.
Minha cidadezinha,
“...só aqui eu sinto
Que são meus
Os sonhos que sonhei
Noutras idades!”*
Bebo em sua boca,
Mossoró,
A água salobra
De todo dia.
Em seus poços mergulho
E me aquento.
Mas você esqueceu-me...
Tanto...
Que nem meu retrato
Na sua parede deixou.
Como dói!
______________________________________
* Florbela Espanca
12/2005.
66 - DECLARAÇÃO DIVINA
Diga-me,
Senhor Deus,
Com aquele costumeiro
Consolo dado aos fracassados,
Em que salgueiro
Pendurei a minha harpa?
Meu coração
Quer outra vez
Cantar.
05/2006.
67 - POEMA BOBO DA MORTE REPENTINA.
Ela era tão introspectiva,
Mas tão introspectiva...
Um dia fechou os olhos.
Foi para dentro
De si mesma.
Não voltou.
11/2006.
68 - LOUCOS MOMENTOS
Contemplo a vida minha
Por trás de um “oceano lacrimal”
Que me embaçam as vistas.
Nem consigo ler
A vida que no papel deito.
A vida em desordem
Desequilibra a boca.
Razão míope,
Emoção extrapolada,
Ofensivos impropérios liberados.
Alma ferida,
Coração pequeno.
Estreitado.
03/2007.
69 - AGONIA
A poesia de hoje
Agoniza,
Quase sem vida.
Geme,
Contorce-se
E grita.
Em uma U.T.I
Esquecida foi.
A maioria de seus
Admiradores do passado
Já não lhe presta
Solidariedade.
Tão pouco
Presta-lhe honrarias.
Os de hoje
Não conhecem
Seu histórico.
Não desfrutou
De suas glórias.
Por um pequeno
Vidro
São poucos os que
Acompanham-na
Nessa dor.
Poucos amigos
Desconhecidos,
Tentam ressuscita-la.
Só os muito íntimos
Acompanham seus últimos
........................Suspiros..........
Os sinais de vida
São débeis.
Alguns parentes próximos
Seguem seus últimos
Instantes:
O soneto, o cordel, a ode...
Ela contempla
Um a um
E sente saudade
Dos tempos idos.
Alegres tardes
Em coretos,
Toda prosa.
Na boca dos moços
Que dela se utilizavam
No encontro com as damas.
Ela tinha nome
E sobrenome.
Era um lindo astro
Bem estudado.
Sabiam toda sua
Carga mendeliana.
Seu genoma lírico
Bem decifrado.
Desfilou majestosa
Em grandes saraus.
Passeou
Entre reis e rainhas,
Enterneceu donzelas.
Esculpida na pedra parnasiana
E clássica.
Futuristicamente
A musa moderna
Transcendeu,
Voou em versos livres.
Psicografaram sua alma.
Hoje ela é mais uma teoria,
Com possibilidade
De ser encontrada
No ocaso indefinido
E em canções,
Não por todos apreciada.
Na prática
Ela não sai do papel
Recusando-se morrer.
Enquanto houver flores,
Enquanto houver dores,
Enquanto houver amanheceres.
03/2007.
70 - SENZALA
De nada seja
Escravo.
Em consequência
A vida o colocará
No tronco.
05/2007.
71 - POEMA DIVINO
Canta!
Ordenou-me Deus.
Se você canta,
Eu canto contigo
E se eu canto contigo
Quem o poderá
Vencê-lo?
Quem?!
06/2007.
72 - SOL NASCENTE DAS PALAVRAS
Olimpíada de Língua Portuguesa.
Hotel Dorisol, Jaboatão, Recife.
Poesia...
Codinome? Dor.
Bolinamos daqui
D’acolá,
Seu nome é amor.
Um poema pueril,
Ainda engatinhando,
Tomou-me pela mão
Trouxe-me ao “Dorisol”.
Dores poucas,
Alegrias tantas!
Não saí do borralho
Tomei uma carruagem
Metálica voadora,
Para aqui falar de dor.
Falo de sol,
Falo de amor.
À noite a brisa
Marítima assopra-me.
Sussurra-me segredos
Indizíveis, ilusórios.
Um homem no meio da noite
Vaga só à beira mar,
Acaso me ver da janela,
Do vigésimo andar, por onde o espreito?
Eu o sei solitário.
Ele me tem por abastada.
Nada lhe digo
Da madrasta realidade.
11/2008.
73 - CRUZADAS
Meus pecados
São soldados
Medievais
Que me atiram
Lanças.
11/2008.
74 - SACRIFÍCIO
Senhor,
Deveria eu
Dar-te
Meu sangue.
No entanto,
Deste-me
O teu.
Para me
Expurgar.
11/2008.
75 - ATITUDE
O pecado oxida
A alma.
É cortisol no espírito.
12/2008.
76 - INDEFINIÇÃO
Não sei
Quem sou.
E dizem que sou tanto...
Ou nada...
Encontro-me
Entre o sub
E o sobre.
03/2009.
77 - VERSOS ALHEIOS
Extasia-me
Pérolas alheias.
Tal poesia
Inunda minh’alma
E aponta minhas
Apagadas centelhas,
Minhas reles parições.
08/2009.
78 - ALMA OCIOSA
Perdi-me
No labirinto
Das coisas.
Incabíveis induções.
Deixem-me em paz!
Não tenho querer
Algum.
08/2009.
79 - CATARSE
Tenho chorado
Mais do que possa
Absorver as secas terras
De meu coração.
Alma convulsionada
No pranto
Raivoso,
Vergonhoso,
Da fragilidade emocional,
Aparentemente inútil,
No solavanco do espírito.
12/2009.
80 - DISPERSA
Não quero ler.
Não quero me informar.
Não quero me conectar.
Não quero viver!
Não quero morrer...
Arre!
Quero só me achar.
03/2010.
81 - MUTISMO
O bom entendedor
Compreende
As falas
Do silêncio.
04/2010.
82 - INDECIFRÁVEL SENTIMENTO
Indecifrável
Sentimento
Das incertezas
Que toda a minha
Vida norteou.
Invisível bússola
Que o caminho
Aos meus olhos
Não mostrou.
Olhos
Irrequietos,
O porto seguro
D’além mar buscou.
06/2010.
83 - ORFANDADE
À Laura Batista, mãe querida.
Pastora de rebanho filial.
Seu bastão conduzia
As desalentadas ovelhinhas
De seu rebanho.
A uma impunha-lhe o cajado,
Impedindo ultrapassagem
Às perigosas pastagens.
Um leve toque,
A cabeça de outra erguia
Para além-horizonte.
Partiu a guardadora de rebanhos.
Foi pastorear
Na campina celestial.
Deitou em campo funesto
Apetrechos de ovelha líder.
Sequer olhou para trás,
Ante novos prados tão convidativos.
Tivesse-o feito,
Ver-me-ia,
A mais desprotegida dos cordeirinhos,
Clamando esse desmame perene.
Tenho coração de luto enegrecido.
Tão pequena era eu,
Nada sabia falar.
Tanto não fora dito!
Veloz correu o tempo,
Nem o vi passar.
É imperativo traçar novo rumo,
Descobrir novas planícies.
Tem missão mais elevada,
A transcendente,
Pelo Sumo Pastor
Convocada.
07/2010.
84 - OVELHA FAFÁ
À minha querida e amada ex-cunhada, em dias muitíssimos difíceis.
Tosquiada
Foi a ovelha.
Tosquia “mielogramada”,
“Mielodisplásica”
Nos excessos de Blastos.
Ovelha ferida!
Marcada a sangue: “JC”.
Mesmo em sangria
Não abriu a boca.
Não tosquenejará
O Pastor
Que lhe aguarda.
Dó-ré-mi-fá...
Fafá...
Triste dó.
Fim de uma canção terrena;
Início de uma sinfonia celestial.
08/2010.
85 - RENOVADAS ESPERANÇAS
A Nilson Silva, meu irmão viúvo.
Impreenchível
Lacuna
Das solidões...
“Moisés está morto”!
Josué, levante-se!
“José vivo está, Jacó!”
Reprima as lágrimas e o choro
Do seu luto.
12/2010.
86 - SINE QUA NON
Ante a bifurcação
Da vida
Escolhi
A estreitura
Do caminho
E carreguei a pequena
E suave cruz
Que me fora proposta.
Devo levantar-me
E ir ao encontro
Da Vida
Que me espera.
05/2011.
87 - VILANIA
Muitos
Fazem
Da vida
Um teatro.
Vestem-se
De Diabo
E tornam
A existência
De outrem
Um inferno!
Ainda se julgam
Personagens
Inocentes.
01/2012.
88 - MADRE
À minha mãe querida, in memoriam.
Laura, leve
levítica,
livre, lírica.
loura,
lúdica.
Laureou-se
Minha doce e amada
Lara.
01/2012.
89 - INVEJA
Há pessoas
Que deixam
Pegadas
No caminho
Da vida.
Há pessoas
Cujo único objetivo,
Aparente,
É apagar
Pegadas
De outrem.
06/2012.
90 - ELEGIA, LAURA
Por ocasião do casamento de Thaís, minha sobrinha.
Viva vovó!
Mas vovó
Voou...
Vem vovó,
Não vá...
Volta!
Não mais
Viva está
A minha vovó.
10/2012.
91 - FIRMEZA ESPIRITUAL
Determinação,
Persistência,
Perseverança.
São todos filhos da fé.
10/2012.
92 - PRESENÇA DE DEUS
O vento
É o carinho
De Deus
Em suas crias.
Enviado
Dos seus
Tesouros.
11/2012.
93 - PARÁFRASE DE SUPERIORIDADE
Deus
É meu sentido
Para a vida,
O destino para a minha alma
E o repouso para meu espírito.
12/2012.
94 - INCOMPATIBILIDADE BIOLÓGICA
Eu e o viver
Nunca nos demos
Muito bem.
Estou sentada
Na esquina
Do tempo
Enquanto a vida
Por mim passa.
Em versos,
Em trovas.
Em sonhos.
Eu e meu bem
Adentramos
A Avenida Viver,
Sentamo-nos
Na praça da vida
Aguardando o tempo
Que voa.
04/2013.
95 - IMPOSIÇÃO
Em uma discussão
Não importa
Quem tem razão.
Importa agir
Como Deus espera.
Enquanto
Perdemos terreno
Diante de Deus,
Por termos razão,
Satanás ganha espaço
Na lacuna
Do ódio.
09/2013.
96 - BIOGRAFIA
A vida é um livro
No qual
Você é o próprio
Autor,
E o historia
Diariamente.
Nesse livro da vida
Não há como
Modificar capítulos anteriores,
Passados.
Pode-se, no máximo,
Reescrevê-los
E apresentá-los
Nas páginas seguintes.
09/2013.
97 - GRAMÁTICA ESPIRITUAL
Deus é um verbo,
Não um mero substantivo.
Será sempre
Um adjetivo superlativo
Absoluto eterno.
09/2013.
98 - MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
A vida para alguns
É um verdadeiro labirinto.
Não é difícil perder-se.
Não se deve julgar
Esses “perdidos”.
O ideal é sermos
A seta que lhes mostra
O rumo.
12/2013.
99 - DOMÍNIO “IMPRÓPRIO”
A raiva em mim
É um bicho amordaçado,
Que estrebucha
Tanto quanto abomino.
10/2014.
100 – ORAÇÃO
Preencha-me, Senhor,
Pois encontro-me vazia.
Derrama sobre mim a chuva
Da unção, a chuva serôdia,
Pois sou terra seca.
Habite em mim
O teu Santo Espírito,
Uma vez que deserto sou.
Meus argumentos,
Minhas razões,
Serão sempre
A tua misericórdia.
Meu intercessor é teu Espírito Santo.
Minhas testemunhas são minhas lágrimas,
Meu advogado é teu filho Jesus.
O sangue dEle me purifica
De toda acusação.
05/2014.
101 – TRANSFORMAÇÃO
A chuva divina
Lava a Terra.
A enxurrada expulsa
Detritos.
A Terra úmida
E limpa
Exala o gostoso
Perfume de Deus.
09/2014.
102 - MARANATA
Vivamos
Como se Jesus
Tivesse nascido
Antes de ontem,
Ressuscitado ontem
E poderá voltar hoje.
12/2014.
103 - VENENO CARNAL
Algumas de nossas vontades
São verdadeiros dragões,
Os quais devemos matá-los.
10/2014.
104 - DE DEUS NÃO SE ZOMBA
Os zombadores de Deus
São hienas risíveis.
Sofrerão suas penas.
01/2015.
105 - LIÇÃO DA VIDA
A vida é a escola,
O aluno é você próprio.
É qualquer um.
A dor é a mestra.
Bom mesmo é sermos autodidatas.
03/2015.
106 - TÃO SOMENTE UMA LEMBRANÇA
A J.P.
João é vento Sul:
Aragano.
João é vento Norte:
“El Niño de mi corazón.”
João foi palavra central
Que correu veloz.
João é poesia viva
Na boca do poeta morto.
João foi devorado pelo tempo
Mas deixou sabor
Na boca do senhor “chronos”.
07/2015.
07 – VIDAS DO AVESSO
Pelo avesso,
No avesso das coisas.
Almas avessadas,
Entrelaçadas,
Contristadas.
No desavesso
Almejado.
09/2015.
108 - INVERDADES NOTURNAS
Não acredito
Nos elogios
Que são
Atirados,
A mim,
À noite.
À noite,
Toda gata
É parda.
10/2015
109 - INQUIETUDES DA ALMA
As dores
De meu ser
São quilométricas.
Tenho esperança
Que atinja os céus,
Só assim serão amenizadas.
02/2016.
110 – FERNANDO PESSOA
Oh, a vida...
Quanto do meu viver
São águas salobras!
Lágrimas que não correm
Para o mar.
O poeta já o transbordou.
11/2016.
111 - DESENGANO
Perdi-me na escuridão
Por que não era vaga-lume.
Perdi meus sonhos.
Na demora do voo do tempo
Cortaram-me as asas.
04/2017.
112 - DESGOSTO
Eu sou Ana,
Senhor.
E Penina
É o opróbrio
Da vida
Que em mim instalou-se.
06/2018.
113 - DIFUSO
Minha mente
Coberta de cinzas.
Meu coração brasa.
Sopra vento norte;
Vem vento sul.
“Não se apagará o pavio
Que fumega”. *
_________________________________________
* Trecho bíblico
09/2018.
114 - VALOR INCALCULÁVEL
Que valor
Tenho eu
Senhor?
Bem sei...
Eu tenho
O valor
De seu sangue
Na cruz.
10/2018.
115 - IMPRESCINDÍVEL
Adianta
Eu ser reconhecida
Pelos homens
Se Jesus não me reconhece?
Vale à pena
Eu crescer perante
Os homens
Se perante o Senhor
Sou diminuída,
Se Deus me faz menor
Do que o “bichinho de Jacó”?
Importa
Meu pai e minha mãe
Acolherem-me
Se o Senhor me desamparar?
Combina ser rica
Se interiormente
Sou um espírito pobre?
Convém
Estar cercada de amigos
Se não tenho a amizade de Cristo?
Adianta
Estar de pé
Ante a humanidade
Se meu Senhor não me levantar?
10/2018.
116 – ÁRIDA
No silêncio de minha mente
Havia um diálogo entre mim
E eu mesma.
Àquele nó na garganta pedia:
Senhor,
Faz-me chorar à tua presença.
Dá-me lágrimas, senão morro,
Para aliviar essa angústia!
10/2018.
117 – REDOMA
Uma burca
Que nada
Deixa à mostra?
Setenta anos
De clausura?
O pecado está dentro
De cada um.
Inerente.
Também expresso nos olhos de quem vê,
Ainda que não haja deliberada sedução.
Penitência,
Autoflagelo,
Não o expulsa.
Só o sangue de Jesus
Purifica-nos.
Redime-nos.
Nos liberta.
10/2018.
* * *