Por Nilson Silva
1
Há histórias na vida
Que nos causam emoção
Algumas verdadeiras
E outras não.
Esta é totalmente real
Não é uma história banal.
Prepare seu coração.
2
A pessoa que vou falar
Não é qualquer pessoa
Por isso tenho o cuidado
Para não falar à toa.
Trata-se de um campeão
Que vai virar canção
Na música que ecoa.
3
Se você está curioso
Pra saber de quem eu falo
Direi já seu nome
Prometo não me calo.
E vocês que estão de fora
Se quiserem é agora
Entre logo no embalo.
4
Braz é o nome dele.
Valente e destemido
Será sempre lembrado
E jamais esquecido.
Tenho para mim,
Que um homem assim
Será sempre querido.
5
Sua história foi assim:
Cedo perde o pai
E numa tristeza profunda
Este valente cai.
Três meses depois
Amanhã no mundo pôs
Morre, ele sua vida sai.
6
A vida para ele foi dura,
Uma ironia do destino.
Resolveu sair de casa
Aquele pobre menino.
Com treze anos de idade
Buscando a felicidade
Como todo nordestino.
7
Saiu aí sem rumo
Sem saber para onde ir.
Levando uma rede "fiada"
Que a mãe fez para ele dormir.
Saiu neste mundo torto
Apenas com a roupa do corpo
E outra para se vestir.
8
Pegou o que possuía
Colocou num saco só.
Disse: "Esta é minha mala
E o cadeado era um nó".
Vou seguindo sem rumo
Para enfrentar este mundo
Sem pena e sem dó.
9
Disseram para ele
O mundo não tem o que dar.
Concordo, disse Braz,
Para quem não sabe conquistar.
Mas eu vou à luta
Porque nessa disputa
O troféu vou levantar.
10
Falaram: É só um menino
Logo vai voltar.
Enganaram-se todos,
Pois ele foi para ficar.
A dor no peito dói,
Mas este pequeno herói
Nasceu foi para lutar.
11
Passou na casa do padrinho
Por nome de Vicente,
Na casa da raposa
E recebeu um presente
E Rapadura e farinha.
Era tudo que ele tinha.
Para poder ir mais à frente.
12
Passando em Patu,
Resolveu ir a Belém.
Na casa do tio Ciço
Onde dormiu também.
Ali caiu um temporal
A enchente foi total,
Mas ele foi mais além.
13
Atravessando o rio piranhas
Ele olha para trás
Preocupado com os irmãos
Que eram pequenos demais.
Mas depois da Travessia
Algo aconteceria
Para o pequeno Braz.
14
Chegando do outro lado
Encontrou-se com um "doutor".
O major marinheiro Saldanha
Era o pai desse senhor.
Que sentindo muita dor
O levou ao Jardim do Seridó
Como prova de amor.
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Talvez, pensou o "doutor",
Filho de marinheiro Saldanha:
É apenas um garoto
E já tem uma luta tamanha.
E eu tenho para mim
Que uma criança assim
Da vida muito apanha.
16
Depois foi a Parelhas
Em cima de um caminhão,
Chevrolet, cabine dupla
Que a palavra coração
Chegou a perder o chapéu
Na velocidade Cruel.
Mas o carro largo não.
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Chegando em Parelhas
Foi procurar trabalho
Numa mina de xelita
Cheia de Cascalho.
Foi para trabalhar
Onde ninguém queria ficar
Na boca de um borralho.
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Disse o encarregado:
"Esse menino não dá conta,
E aquela banqueta
Nunca estará pronta".
Mas pensou aquele menino,
Com seu corpo franzino:
"De mim ninguém zomba".
19
Começou a trabalhar
Naquela dura minha
Dizendo:"Eu não abro,
Se Esta é minha sina.
Eu vim foi para trabalhar,
Não estou aqui para brincar.
Nem tomar banho de piscina".
20
Viu encarregado
Que o menino mantinha
Sempre aquele setor Limpo,
Tem muita coragem tinha.
Com uma terrível bravura
E um carrinho de roda dura
Limpava banquetinha.
21
Afirmou-lhe o encarregado
Por nome de venerável:
"Tu irás morar comigo.
É isso menino amável,
Se eu não te der a mão
Nessa tua situação
Serás um homem miserável.
22
Pois muitos homens aqui
Não deram conta disso.
Tu manténs a banqueta limpa,
Dando conta do serviço.
Fazendo sem demora,
Trabalhando toda hora.
Não se deixa vencer nisso".
23
Seu venerável não se cansava
De a Braz elogiar.
Este podia passar a noite inteira
Por aí a festejar,
Mas quando despontava
Ele logo se aprontava,
Para a labuta começar.
24
Passando certo tempo
Braz disse: "Eu vou embora".
Ficou seu venerável
Como um pai que logo chora.
Mas não teve remédio
Braz foi bater em São Mamede.
Outra vez mundo afora.
25
Chegando em São Mamede
Com sua mala na mão,
Alguém grita: " que procuras,
Aqui na região?"
"Eu vim para trabalhar".
Responde sem gaguejar.
Apoiando a mala no chão.
26
"Eu tenho trabalho",
Aquele homem falou.
"Procure meu encarregado
E diga quem te mandou.
Vá para minha fazenda,
Acerte a sua renda
E diga que logo vou.
27
Espere o carro do leite
Que logo vai voltar.
Você pode ir com ele,
É bom se preparar".
Mas o carro demorou
Braz logo caminhou
Para a fazenda encontrar.
28
Chegando na Fazenda
Teve uma enorme surpresa.
Quem primeiro recebeu
Foi uma bela princesa.
Começaram a se olhar,
Ela disse vamos entrar
Fazendo assim a gentileza.
29
Conheceu Manoel Cassiano
Seu futuro patrão.
Acertaram o serviço
Mas ele treme o coração.
Pensando na donzela,
Aquela moça bela
Já era sua satisfação.
30
Logo a noite chegou
Teria feijão para debulhar.
Ela sem perda de tempo
Foi o moço convidar.
Ele já lhe queria bem
E "feijão vai feijão vem..."
Começaram a namorar.
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Ele é alegre e contente
Jamais imaginaria
Que Manoel Cassiano
O seu sogro seria.
Aí a vida reservou
E para Ele preparou
Um pouco de alegria.
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Estava tudo arrumado
E nós herói muito feliz.
Ele olha para ela
E com alegria lhe diz:
"Dôra, casa comigo.
O teu colo com o abrigo
É tudo que sempre quis".
33
Ela disse que sim
Naquele lindo momento.
Fizeram os preparativos,
Para aquele casamento.
Ele disse:"Tenho sorte
Voltarei lá no 'Norte'
Para pegar meu documento".
34
Voltando para o 'Norte'
Foi a maior alegria.
Pois fazia tempo
Que seus irmãos não via.
Não entristeceu nenhum,
Abraçar um a um
Era tudo que queria.
35
Pegou seu documento
E voltou para se casar,
Se uniu à bela moça
Para com ela sempre estar.
Estava a todo vapor
Fazendo Juras de Amor,
Prometendo lhe amar.
36
Nasceram desta União
Cinco pedras preciosas:
Edma e Edileuza
Mulheres valorosas.
Existem outros três
Que falarei de uma vez
Pois são pessoas honrosas.
37
É Hildo e Edvaldo,
Que também estão aqui.
Existe outro Valente
Que é o grande Vanir.
Eles vão sempre lutar,
Moverão a terra do lugar
Só para verem seu pai sorrir.
38
Braz resolveu outra vez viajar
E enfrentar outros Ventos,
Partir com a mulher e Filhos
Foi esse seu intento.
No Bebedouro morou,
Mas para Petrolina se mudou,
Depois de algum tempo.
39
Chegando em Petrolina
Um terreno compraria.
"Não compre longe da igreja",
Era o que dura pedia.
Braz disse: "Não corre risco,
Vou falar com o Bispo
Para me vender a sacristia".
40
Nesse dito terreno
Farei uma casa, presumiu.
Ali realizado
Os seus sonhos ele viu.
Era algo sem igual
Ao lado o "Coqueiral"
Bar que construiu.
41
Foi adquirindo posses
E uma fazenda comprou.
Já não é mais empregado,
Pois em patrão se tornou.
Pagou o preço que vale,
No seio da Agrovale
Ali ele ficou.
42
Hoje bem que poderia
Descansar do seu enfado.
Mas ele sempre diz:
"Daqui só saio arrastado.
Essa roça é para mim
Um paraíso, sim.
Me sinto realizado".
43
Hoje o nosso herói
Tem abundância de dias.
A esposa, filhos e netos
Completam sua alegria.
Pois chegar nessa idade
Com tanta felicidade
Quem não gostaria?
44
Bem, tem tudo isso
E muito mais.
Drummond só falou de José
Porque não conhecia Braz.
Pois se tivesse conhecido
Esse homem destemido,
José estaria para trás.
45
Se dissesse: "E agora Braz"?
A luz apagou,
O dia se declina
E a noite chegou.
Com certeza diria Braz:
“Eu sou um homem e veraz
Para mim nada acabou”.
46
Se para José a luz apagou
E ele não atendeu
Com Braz é diferente,
Pois disso não se esqueceu.
Que ele é duro na queda, sim,
E vai até o fim.
Por isso ele nasceu.
47
Espero, meu velho Braz,
Que tu não vivas ao léu.
Deus te conceda a vida eterna,
Esse verdadeiro Troféu.
O homem tem que nascer de novo
Passar por um renovo,
Se quiser entrar no céu.
48
Esta é a grande Saga
Do Nosso Herói lutador.
Depois de muitas batalhas
Sua armadura encostou.
Apesar das muitas agruras
Lutou com bravura
E o sucesso conquistou.
***