INTRODUÇÃO
“Os meus olhos estão continuamente no Senhor, pois Ele tirará os meus pés da rede. Olha para mim, porque estou solitário e aflito. As ânsias do meu coração se têm multiplicado; tira-me dos meus apertos. Olha para a minha aflição e para a minha dor e perdoa todos os meus pecados” (Salmos 25. 15-18).
Comecei escrever estes versos tempos depois que minha mãe faleceu. Decorridos trinta e dois dias após esse trágico momento houve o falecimento de minha querida esposa. Dei continuidade após outro tempo a esse expressar de sentimentos. Entretanto, continuo dizendo que Deus é fiel, pois ainda que sejamos infiéis Ele permanece fiel. Não pode negar a si mesmo, e nele não há mudanças, nem sombra de variações. (II Timóteo2. 13 e Tiago 1. 17).
Não os escrevi no ano em que elas faleceram em 2010, fiz isso uns três anos depois, provavelmente iniciei em 2013, fui fazendo pouco a pouco. Concluí-os em 2016, após escrever 426 estrofes. O tema varia entre os turbulentos sentimentos de minha alma, o sacral, e o leve abalo de minha espiritualidade.
Mesmo em meio a tantas turbulências, Jesus me tem feito voar nas asas da graça, e é por causa desta graça que posso dizer: “Tive grandes descobertas e aprendizados, quando o arqueólogo Deus escavou a minha alma”.
Aprendi com o Santo e inerrante livro de Deus,a Bíblia Sagrada, que com a tristeza se faz melhor o coração. (Eclesiastes7. 3).
Aprendi que é melhor está na casa do luto, do que na casa do banquete, porque ali se medita no fim de todos os homens. (Eclesiastes7.2).
Aprendi que para aqueles que obedecem a palavra de Deus, é melhor o dia da morte do que o dia do nascimento e o fim das coisas do que o princípio delas. (Eclesiastes 7. 1).
Aprendi que quando partimos deste mundo, ficamos ausentes deste corpo para estarmos presentes com Deus. (2 Coríntios 5. 6,8).
Aprendi que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8. 28).
Aprendi que a obra de cada um será provada pelo fogo, seja ela ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha. (I Coríntios 3.12-15 e 2 Coríntios 5.7).
Aprendi que muitas vezes estamos na zona de conforto, mas chega o momento que somos lançados na fornalha da aflição. (Isaías48.10).
Aprendi também que nossas lágrimas são histórias escritas no livro de Deus. São mais preciosas que o mais fino vinho, pois este se encontra nos odres dos homens, enquanto que as lágrimas estão nos odres de Deus. (Salmos 56.8).
Aprendi que as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. (Romanos 8.18).
Aprendi que não tenho que ver para crer, mas crer para ver, pois não vivemos por vista, mas por fé. (2 Coríntios 4.18).
Aprendi que apesar das lutas não devemos recuar, pois assim não terá Deus prazer em nós. (Hebreus 10.38).
Aprendi que o choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem ao amanhecer (Salmos 30.5).
Aprendi que os mais belos hinos e poesias foram escritos em momentos de tribulação. (Hino, Harpa Cristã número126).
Enfim, aprendi, e repito, que só teremos grandes descobertas se permitirmos que o grande arqueólogo Deus escave as nossas almas.
Aprendi...
Nilson Silva.
ENTRE A DOR E O GEMIDO (Dirceu sem Marília).
01 -
Meu sorriso já não está como dantes.
A dor coloca em mim um disfarce.
As lágrimas teimam banhando minha face.
Já não tenho paz, nem por um instante.
02 -
Estou com a vestimenta da dor;
Não tenho minhas vestes de festa.
A amargura estampada em minha testa
Denuncia-me por onde eu for.
03 -
Nunca saberão, querida, o que sinto,
Pois eles não sabem o quanto te amei.
Mas eu tenho provado, e bem sei,
O gosto deste pranto e absinto.
(“absinto”, no contexto, significa “amargura”,
‘bebida de sabor amargo’)
04 -
Estou traspassado de tanta melancolia.
Esta manhã, querida, chorei encostado naquela árvore
Que você plantou. Sei, sou resquício de barro e não de mármore,
E minha alma geme de tanta nostalgia.
05 -
Há muito não chove no meu ermo. (“ermo”, deserto)
A minha terra está árida e estéril,
Mas sei que tenho um Deus de mistério
E não me deixará andar a esmo.
(“a esmo”, ao acaso; sem rumo)
06 -
Senhor, vem e me envolve com teu abraço.
Jesus, quero chorar encostado no teu ombro.
Minh’alma está soterrada nos escombros.
Acode-me depressa com teu forte braço!
07 -
Estou preso e não vejo como sair.
Amarrado por um emaranhado de problemas.
Viver ou morrer: eis um dilema.
Senhor, socorre-me! Não me deixes cair.
08 -
Mas eu morri. Meus sentidos já não estão neste mundo.
Será esta dor um salário, um prêmio?
Será que errei tal qual boêmio?
Ando pelas ruas semelhantes ao moribundo.
09 -
O gemido da minh’alma me obriga a perguntar:
“Senhor, porque tudo isto,o que eu fiz?”
Ele permanece calado e nada me diz.
E minha dor faz minha voz embargar.
10 -
Minha amada se foi. Já não estou com ela,
Aquela a quem ama a minha alma.
Quase que eu perdi a calma.
Não paro de pensar nela.
11 -
Um dia sonhei que tínhamos rompido.
Porém, logo voltaria para você.
O sonho me fez esquecer
Que minha amada mulher tinha morrido.
12 -
Acordei, minha companhia era a decepção.
Então soltei um grande suspiro.
Estou ofegante, e já não respiro
Por causa da dor que atravessa meu coração.
13 -
Sou como a árvore desfolhada,
Atingida pela seca da dor.
Perdeu a seiva e o vigor,
Sem perspectiva de ser regada.
14 -
Já não espero pela chuva temporã,
É inóspita a minha terra.
Então corro, subo àquela serra
Desejoso a serôdia, mas é vã.
(“serôdia”, que o ocorre, também, fora do tempo.
“temporã”, fora do tempo, de surpresa.
“inóspita”, inabitável, hostil)
15 -
Sei que Deus fará cessar a noite escura
E que um novo dia vai raiar,
Um hino ao Senhor vou cantar.
Ele tirará toda coisa impura.
16 -
Sei que Ele me dará um novo canto,
Um sorriso nos meus lábios brotará.
Neste vale não vou mais estar,
Pois já tem cessado meu pranto.
17 -
Senhor,tu és minha rocha, meu abrigo.
Quando partirei e deixarei este corpo
Que, por causa do pecado, me deixa todo torto?
Ficarei ausente dele, porém, presente contigo.
18 -
Disse Paulo uma coisa que me impressiona:
“O que eu quero não faço”, isto revela tododefeito.
“E o que não quero,sem perceber, já tenho feito”.
Minha consciência traz à tona meu pecado.
19 -
Um dia adentrarei no país do amor.
Sairei deste mundo de maldade.
Então, querida, matarei minha saudade,
Que me consume com toda esta dor
20 -
Se eu tombar e secar a minha fonte
Sei que saí apenas da mesmice.
Jamais conhecerei as mazelas da velhice,
Pois fui contemplar um novo horizonte.
21 -
Sei que a alegria de mim já fugiu.
Sinto dos teus cabelos o aroma.
Minha alma há muito entrou em coma
Pela dor que me atingiu.
22 -
Tenho comido angústia por alimento.
As iguarias do meu prato
É dor, amargura e mau-trato.
Mora no meu peito um horrível sentimento.
23 -
Esta dor me faz gemer e gritar,
Torna meu folguedo em luto.
Mas tu Senhor, me tornas impoluto,
Em meio a dor que me quer manchar.
24 -
Minha alma está como quem tomba,
Num caminho íngreme e escarpado.
Estou tão enfadado...
Numa estrada que só se alonga.
(“escarpado”, difícil, espinhoso)
25 -
Já deixei de lado esta vida
Escavo pela morte
E quem sabe aniquilar a má sorte
De uma existência tão sofrida.
26 -
Deus deixa pôr minha cabeça em teu colo,
Qual filho que do pai quer seus braços.
Quero para ti contar meus fracassos,
Pois estou lançado ao solo.
27 -
Senhor, não consigo sequer falar.
A minha alma a ti clama,
Semelhante a tua serva Ana,
Dos lábios, apenas um sussurrar.
28 -
Vem Deus, acode-me depressa!
Meu coração geme e chora todo dia.
Tira-me de tamanha agonia.
Vem socorrer-me depressa.
29 - Desta dor eu quero a cura.
A vida é dura e malvada.
E esta dor como que cravada
Pelo punhal da amargura.
30 -
Sei que antes que eu venha perecer
Escreverei MANASSÉS (Deus fez me esquecer),
Pois de todo meu revés,
A dor Deus já me fez perder.
31 -
Escreverei também EFRAIM,
Pois duplamente frutífero serei
E de tudo isto eu bem sei
Que Deus tudo fez por mim.
32 -
Minha alma cantar anela.
Aguardo que o inverno cesse.
Então te farei uma prece,
Olhando o céu pela minha janela.
33 -
Sei Senhor, que te ouvirei falar:
“Homem, EU SOU a tua sorte,
Por que me pedes a morte?
No tempo devido vou te exaltar”.
34 -
Tu és vida Senhor, tu és luz.
Quando me ponho a gritar,
É contigo que tenho que falar.
Tu és Deus, tu és Jesus.
35 -
Senhor, sinto-me esquecido em “Lo-Debar”.
Como que lançado no lixo e no pó.
Muitas vezes me sinto só
Ecom uma enorme vontade de chorar.
(“Lo-Debar”, sem pasto, indigente, infrutífero)
36 -
Anseio pelos braços da minha amada.
Já não suporto a saudade dela.
Querida, minha alma te anela.
Minha vida está tão amargurada!
37 -
Sinto perto de mim o teu coração
E fortemente o cheiro do teu pescoço.
Então faço um tremendo esforço
Para não sair desta ilusão.
38 -
Hoje vivo apenas de lembranças.
A saudade vem e me devora
E a cruel dor que me apavora
Deixa-me indefeso tal qual criança.
39 -
No infinito está a minha mente.
Ando chamando o seu nome.
Então, querida, meu grito some
E eu choro amargamente.
40 -
Conheci-te esposa amada.
Apresentaste-me a felicidade,
Mas por uma funesta fatalidade
Fiquei com a alma amargurada.
(“funesta”, mortal, fatal)
41 -
Alguns sonhos também morreram,
Sei que não voltarão jamais!
Tão longe tu estás
E assim sendo já pereceram.
42 -
A saudade é tão grande, querida,
Estou vivendo dias de caos.
Meus momentos são maus
Arrasto-me por esta vida.
43 -
Ah, querida,estou tão magoado!
Hoje estive contigo, com você sonhei,
Mas assim que despertei
Tu já não estavas do meu lado.
44 -
Sinto a cama vazia,
Já não passeias pela casa.
Sou como pássaro sem asas
Que chilreia noite e dia.
(“chilrear”, nesse contexto, canto triste do pássaro)
45 -
Querida, cortante é esta saudade.
Estou desesperado para amar-te!
Mui desejoso de encontrar-te
E voltar a ter felicidade.
46 -
Às vezes querida, estou tão perto de ti,
Que pensar nisto me ponho.
Porém, acordo, era apenas um sonho.
Extasiado eu volto a mim.
47 -
Choro, grito, e às vezes lamento.
Estou numa estrada quase sem fim
Quando de repente vem em mim:
“Estou lançado no esquecimento”.
48 -
Senhor, já fiz transbordar os teus odres,
Com minhas lágrimas os tenho enchido.
Tenho encharcado os teus vestidos
Guarda-as bem nos teus cofres.
(“odres”, cantis de couro de animal para água)
49 -
Grande é essa dor, falo a verdade não minto.
Foi-se quem abrilhantava meu chão.
Hoje me chamam de chorão,
Talvez por não saberem o que sinto.
50 -
Sei que sou um cara comum.
Ultimamente vivo na mesmice.
Às vezes cheio de esquisitice.
E os amigos? Por vezes nenhum.
51 -
Sei que vou deixar este tabernáculo
Da terra vou desaparecer.
De tudo aqui eu quero esquecer,
Para sempre estar no teu cenáculo.
(“tabernáculo”, templo)
(“cenáculo”, reunião dos que professam a mesma fé)
52 -
Ainda estou neste pedaço de chão
E irei cultivar a minha gleba.
Deus é quem ao céu me leva,
Jamais lutarei em vão.
(“gleba”, porção de terra)
53 -
Ali converterá meu pranto em alegria
E não deixará meu espírito calar de uma vez.
Eu sei que sou um homem soez.
Tenho chorado noite e dia.
(“soez”, sem nenhum valor)
54 -
Lá não terei a nódoa da escória,
Nem a ignomíniaque tenho sofrido.
Serei com certeza socorrido
Pelo Deus que muda a história.
(“ignomínia”, afronta, injúria, infâmia)
55 -
Disse o poeta: “Os mais belos hinos e poesias
Foram escritos em momentos de tribulação.
Em meio à grande escuridão
Se ouviram grandes melodias”*
*(Hino, Harpa Cristã)
56 -
Estou gravado nas mãos do todo-poderoso.
Tudo isto é para que eu seja purificado,
Tal qual ouro brilhante iluminado.
Não adianta eu fazer nenhum esforço.
57 -
Fui lançado na fornalha da aflição.
Sei que ali serei provado,
Confesso, estou todo apavorado
Ante horrenda situação.
58 -
Minha alma grita, pois está em agonia.
Estou amarrado com as cordas da dor,
Parece que por onde eu for
Esta será a minha companhia.
59 -
Senhor, estou prestes a perecer.
Estou lançado em tão profunda cova.
Duro para mim é esta prova.
Para sempre vais me esquecer?
60 -
Estou navegando num mar de dor.
Remando no barco da insegurança,
Parece até que minha esperança
Já desfaleceu e acabou.
61 -
Tenho o desejo ardente de partir
E lá no paraíso célico viver,
De tudo aqui me esquecer
E desfrutar a doce paz do porvir.
(“porvir”, futuro)
62 -
Entrei em conflito de uma só vez
Pois alguns me taxam de ocioso,
Outros até de preguiçoso,
Por não entenderem meu estado de morbidez.
(“morbidez”, abatimento, desânimo doentio)
64 -
Há um mal que me amarra e me acorrenta,
Sugando mais de década da minha existência.
Pondo à prova minha escassa paciência,
Causando em minha alma grande tormenta.
65 -
Já não consigo comemorar meu nascimento,
Pois já tenho amaldiçoado aquele dia.
Que só me trouxe agruras e agonias,
Tenho-o lançado no esquecimento.
66 -
O tempo como hábil lavrador
Abre profundos sulcos no meu rosto,
Regando pelas valas do desgosto
Os sufocantes espinhos da dor.
67 -
Deus, tu és o amparo do teu povo.
Para nós tu és um grande escudo.
Que nos salva e nos protege de tudo
E nos faz passar pelo renovo.
68 -
Tu fazes escavações em mim
Para extrair o mais rico tesouro.
Ainda que na minh’alma cause um estouro,
Sei que não será o meu fim.
69 -
Já não sei se ainda sonho
E nem se ainda me conheço,
Mas sei que me encontrar careço.
Então a pensar nisto me ponho.
70 -
Diz-me as santas e imutáveis Escrituras:
“Melhor é o fim das coisas, do que o início delas”.
Sei que para cumprir tuas palavras velas,
Ainda que isto nos cause grandes amarguras.
71 -
Abominei o dia do meu nascimento,
Pois em mim já não existia mais alegria.
Na cruenta dor minha alma estremecia
Desconhecendo tal destino e todo este intento.
72 -
Gritei tal qual profeta Jeremias.
“Serás, Senhor, tu para mim ilusório?”
Já não te sinto, já não és notório.
Grande é esta minha agonia.
73 -
Já não há nesta vida satisfação.
Chego a desejar que encerrem os meus dias.
Estou lançado em terra, estou posto em agonias.
Desejo sair da terrena habitação.
74 -
A dor parece ouvir-me dizer: “Acompanhe-me”.
Então choro e me lanço no meu leito.
Sou semelhante ao menino de peito,
Gritando desesperado pela mãe.
75 -
Desejei ter o direito de decidir
E ser consultado antes da concepção,
Se eu gostaria de vir a este mundo ou não
Chorei, pois desejei jamais existir.
76 -
Perdoa-me, Mestre, a minha ousadia,
Às vezes chego achar teu silêncio irritante.
E minha alma perante ti tão gritante
Clama-te e te deseja noite e dia.
77 -
Melhor é o dia da morte do que o dia do nascimento.
Eu concordo com a tua santa palavra.
Pois a dor que na minha alma lavra
Abre sulcos em mim sem nenhum consentimento.
78 -
Já cessaram o riso e a boa fama
Estou prostrado na velha rede.
Minhas lágrimas salpicadas na parede.
Sou como verme lançado na lama.
79 -
Ah, Senhor meu, passa teu azeite na minha ferida,
Acende meu fogo e minha tocha.
“Sacia-me com o mel que cai da rocha”,
Como disse o salmista, do trigo que me dá vida.
80 -
Diante de um Deus tão grande e excelso
Sinto-me que nada sou. Apenas pó.
Apesar disto sei que não estou só,
Por isso o teu nome sempre confesso.
81 -
A dor persegue-me tentando me acabar
E quer lançar-me para detrás do muro,
Pois não sabe que mesmo no monturo
Ainda assim o Senhor vai me buscar.
82 -
Senhor, tenho perdido a estima.
Tenho fugido de um fantasma.
Sim, a dor que me espanta e me pasma.
Então eu olho para ti, olho para cima.
83 -
Na poltrona da melancolia estou a sentar,
Com os pés apoiado na fleuma.
Aguardando um suspiro, a pneuma.
Sou mero espectador assistindo a vida passar.
(“fleuma”, apatia, impassibilidade)
(“pneuma”, nesse contexto, sopro no espírito)
84 -
Estou de olho na TV da existência.
Em uma morada repleta de ilusão.
E está dor que faço alusão,
Tentando vem forçar minha desistência.
85 -
Vivencio o dia “D”. O dia tenebroso.
É uma noite negra de escuridão.
Mas olho no horizonte um imenso clarão
Do Deus que é mui forte e corajoso.
86 -
Nesta vida já não há sucesso nenhum,
Existe apenas um obscurecido futuro.
Sou como trapo velho no monturo,
Desprezado sem valor algum.
87 -
Minha condição de vida é enfadonha.
Atua em mim como um micróbio
Que ao hospedeiro causa opróbrio
Fazendo-o coberto de vergonha.
88 -
Senhor, tu tens sido meu alento,
Revelas-tea mim, a todos nós.
Faze-nos ouvir a tua voz,
Pois em teus braços me acalento.
89 -
Socorre-me,estou em mar turbulento.
A água já está além do meu pescoço.
Quero ouvir-te, mas não te ouço.
Já não entendo o teu intento.
90 -
Estou qual bêbado a cambalear,
Pela dor embriagado e entorpecido.
Como que da vida já esquecido,
Não consigo sequer andar.
91 -
Estou preso, todo amarrado.
Estou travado e não consigo me mexer.
Tento de tudo isto me esquecer.
Inútil é, está em mim tão agarrado.
92 -
Ando com grande dificuldade,
Arrastando mãos e pés.
Não tenho como sair deste revés
Procurando estou a felicidade.
93 -
Entre o choro e o riso,
Na divisão da guerra e da paz.
Já não sei como se faz,
Só sei que de ti preciso.
94 -
Cansado de tanto chorar
Em lágrimas me tenho desfeito.
Pela dor que rasga o meu peito
E triste é o meu cantar.
95 -
A dor me persegue e vem me afligir,
Corta minha alma de forma profunda.
Isto é para mim rio que inunda.
Esforço-me, mas não tenho como sair.
96 -
O Senhor limpa os porões da minha alma
E está disposto continuar esta faxina.
Claro, que isto não me fascina.
Coisa esta que vem me tirando a calma.
97 -
O vigor passou.Já perecem as minhas cãs.
Não há forças. Embaçada está minha visão.
Também já se despede de mim a audição
Nesta efêmera vida de lutas tão vã.
(“efêmera”, passageira, fugaz)
98 -
Sei que a planta da dor produz o fruto da poesia,
Pois com a dura tristeza se faz melhor o coração,
É o que nos diz a Palavra na sua santa unção.
O que é uma santa verdade e não uma heresia.
99 -
Sei que um dia findará todo esse meu revés.
Quando o todo poderoso,o Deus da minha paz,
Esmagar e aniquilar o inimigo satanás.
Com grande poder bem debaixo dos nossos pés.
(“revés”, instabilidade, inconstância)
100 -
Sei que estou longe de atingir a perfeição,
E aqui sou mero acidente genético.
Mas lá no céu terei um perfeito estético,
Sem precisar de nenhuma correção.
101 -
Estou em cativeiro, longe de Jerusalém.
Estou na terra de Babilônia,
Mas não faço parte desta colônia.
Minha pátria está além.
102 -
Estarei além da terra de dor.
Onde ali tudo é primavera,
Não terei que enfrentar a fera
Desta vida de engano e dissabor.
103 -
Agora estou d’além do Jordão.
Tenho o meu nome mudado,
Pois em Deus estou mui grudado
Dele jamais abrirei mão.
104 -
Senhor, arrancaste de mim a felicidade
Arrebataste para ti meu coração.
Meus dias já não têm emoção,
Triste ando pela cidade.
105 -
Cessaram nossos dias de folguedo,
Paira sobre nós um ar de morte,
Mudando todo o rumo da nossa sorte.
A dor já não é nenhum segredo.
(“folguedo”, festa, alegria, folia)
106 -
Já não consigo me alegrar,
O riso fugiu da minha boca.
Ando como que para uma forca,
Um triste caminho a enfrentar.
107 -
Sinto uma inveja estranha
Daqueles que a terra do silêncio descem.
É lá que os sonhos fenecem.
Há um reboliço nas minhas entranhas.
108 -
Quando sairei desta noite escura
E verei um novo dia amanhecer?
Senhor não venha a me esquecer
No vale desta dor sem cura.
109 -
Tudo é tão difícil e doloroso!
O monte é alto e escarpado,
Mas tu estando ao meu lado
Nenhum caminho é escabroso.
(“escabroso”, pedregoso)
110 -
Levanto meus olhos contemplando o infinito
Às vezes acho que não há saída,
Mas sei que antes da minha partida
Glorificarei o Deus bendito.
111 -
Meus amigos já não me visitam mais
Estou à semelhança de Jó,
Mas quando penso que estou só
Jesus diz: “Não te deixarei jamais”.
112 -
Que amor grande Senhor, e sem medida!
Tua bondade nunca terá fim.
Teus olhos estão postos em mim,
E vês a minha alma tão ferida.
113 -
Adentrarei as mansões celestiais,
Isto fala lá no meu íntimo.
Apesar de eu ser muito ínfimo,
Lá eu sei, não sofrerei jamais!
114 -
A forte dor que me acorrenta
Vem sussurrando para eu desistir.
E tentando vem me sucumbir
Arremessando-me em meio à tormenta.
115 -
Mas tua palavra é combustível
Que alimenta a chama da minha esperança.
Eu não passo de uma criança,
Contudo,sei que tua palavra é fiel e crível.
116 -
Tua palavra também é alento
E me faz ouvir tua voz.
Onde fico contigo a sós
E nos teus braços me acalento.
117 -
Tu és meu Deus, meu grande Rei
Sou teu filho, mas ainda que fosse teu vassalo
Correria somente para encontrá-lo
Juntamente com tua santa grei.
(“grei”, clã, rebanho)
118 -
Tal qual Davi também estou debaixo das tuas asas,
Até que passem todas as calamidades.
Corro atrás da eterna felicidade,
Que só encontro na tua santa casa.
119 -
Senhor, como a ausência dela me dói!
Parece até que não tem jeito,
Essa dor dentro do meu peito
Pouco a pouco me corrói.
120 -
Desejo tanto, querida, te abraçar,
Sinto falta do teu afago.
Então vejo que me apago,
Pois aqui não vais passar.
121 -
Éramos dois em um só coração.
Estávamos unidos numa só carne.
Tu eras a minha outra parte.
Devastada está minha emoção.
122 -
Queria pegar nossos filhos e voarmos para aí
Então estaríamos juntinhos a ti, querida.
Daria adeus a esta terra tão sofrida,
Para jamais sairmos daí.
123 -
O gemido de dor que me suplanta
Devora-me e pouco a pouco me suga.
Mas sei que antes que eu suba
Só tu de mim esta dor arrancas.
124 -
Estou plantado em terra seca,
Gritando pela água que não vem.
Desejo brotar, ter vida também,
Não deixes que eu morra e te perca.
125 -
Não quero ser filho contumaz,
Pois se eu for, terei uma sentença.
Tudo que eu quero é estar na tua presença,
De ti não me afastar jamais.
(“contumaz”, teimoso, birrento)
126 -
Em aperto vivo dias contrários.
Sinto-me dentro de um calabouço.
É tão profundo este poço,
Ah, como eu estou solitário!
(“calabouço”, cárcere, masmorra)
127 -
Gemo de tanta tristeza
E choro por detrás da colina.
Pensando em você mulher, menina,
Sou teu súdito, minha alteza.
128 -
A saudade como traça me corrói,
Consome-me, mata e dilacera.
Tal qual horrível fera
Suga-me e me destrói.
129 -
Querida, ainda estou apaixonado por você.
Nãome esqueço de um só momento.
E tem perdurado este sentimento,
Pois me recuso te esquecer.
130 -
A saudade é cruel e cortante.
Faz-me gritar dizendo: “Volte
E abre no meu peito com um golpe,
Qual afiado diamante”.
131 -
Estou sozinho em nossa cama,
Tenho a dor como companhia.
Sinto tristeza todo dia,
Por aquela a quem minh’alma ama.
132 -
Nada de ti me afasta.
Meu gemido é almático e corpóreo
Choro debaixo do verde arbóreo,
Aqui nesta sombreada mata.
(“almático”, aquele que toma decisões através da alma).
(“Arbóreo”, referente à árvore)
133 -
Está enferma a minha alma,
Pela dor que me acorrenta.
Perder-te foi como tormenta
Que abala o mais perito nauta.
134 -
Querida,tivemos lindos momentos.
Mas a noite chegou, não há mais dias.
Lembro-me das vezes que te ouvia,
Declarar-me teus sentimentos.
135 -
Já cessou o brilho no meu olhar
E o sol se declina por trás do monte.
É tão escuro o meu horizonte...
Então me ponho a chorar.
136 -
Senhor, tu és a minha esperança.
Esta jamais será malograda.
Estou com a alma tão magoada
E não passo de uma criança.
137 -
O meu estado é de morbidez.
Estou como o ferido de morte.
E esta dor que é de alto porte.
Revela assim a minha languidez.
(“languidez”, abatimento, depressão, desalento)
138 -
A vida que almejo não me vem. Demora.
Chego a adoecer de tanta saudade.
Querida, onde habitas não há maldade.
Estou ansioso para ir embora.
139 -
Minha noite já é escura,
Aflito aguardo o amanhecer.
Senhor, não me deixe perecer.
Livra-me neste vale de agruras.
140 -
Quando daqui eu partirei Senhor?
Deixa-me estar pertinho dela!
Amo a ti, mas amo também ela,
Desejoso estou pela minha flor.
141 -
Estou acorrentado, com pesadas cadeias
O Inimigo diz: “Acabou! É seu fim!”
Mas tu dizes olhando para mim:
Lembra-te Eu te livro do mal que permeia.
(“permeia”, que está em volta)
142 -
“Olhai para mim e sede iluminado
Eu sou o Senhor da luz.
Tua vitória conquistei na cruz
E estou sempre do teu lado”.
143 -
“Escolhi-te entre pedras sujas.
Friccionei-te até ficar brilhante,
És para mim tal qual diamante.
Cujas pedras sobrepujas.
(“sobrepuja”, domina)
144 -
O Inimigo me ataca e não descansa.
Com sua ação mui ferina
E sua peçonha viperina.
Mas a mão do Senhor me alcança.
(“viperina”, perversa, maléfica)
145 -
E esta dor que não quer cessar...
Tão resistente quanto a penha.
Mas antes que a morte me venha
Tua destra há de esmiuçar.
(“penha”, pedra)
146 -
Sei que não vais me esquecer,
Mesmo eu lançado no monturo.
Sei que tens para mim um futuro
Eminhas forças vais refazer.
147 -
Tu és o Deus sempiterno,
E eu apenas um rabisco.
Não passo de um apagado risco,
Nas brancas folhas de um caderno.
148 -
Posso até estar lançado no solo,
Mas tu habitas nas alturas
E nós, que somos simples criaturas,
Ainda assim nos leva em teu colo.
149 -
Sei que a terra é o meu lugar,
Pois dali eu fui tirado.
Por tuas mãos fui amassado,
Para na tua galeria eu estar.
150 -
Estou com a alma amargurada,
Sou como o atribulado de espírito.
Meu rosto tão explícito
Expõe uma dor desmascarada.
151 -
Não sei Senhor, o que tu vês em mim.
Não sou nada.Simplesmente um resto.
Enquanto penso que não presto,
Tu me amas mesmo assim.
152 -
Já me armaram até armadilhas,
Os terríveis agentes do inferno.
Mas tu és o grande Deus eterno,
E livra-me de malévolas trilhas.
153 -
Tu disseste que jamais morrerei,
Pois estou enxertado na vida
Por meio das tuas feridas
E ali na glória eu estarei.
154 -
Sonho com o céu todo dia.
Lá mudarás a minha sorte,
Onde não há dor e nem morte,
Ali só há canto e alegria.
155 -
Quando o dia raiar para mim,
Sairei desta noite escura.
Minha esperança já tão obscura,
Brilhará intensamente, por fim.
156 -
Já não serei como o vento que passa,
Nem como o dia que cessou,
Nem como algo que não perdurou.
Já não serei vazio e sem graça.
157 -
Pois sei Senhor que tu me estimas,
Ainda que nada tenho a oferecer-te.
Não me deixarás perecer,
Pois meu caminho é para cima.
158 -
Perdoa-me Senhor,pois ainda choro por ela.
Ando por este vasto terreiro,
Nela pensando o dia inteiro.
Pranteei no pé daquela janela.
159 -
Naquele dia dei o último adeus.
O choro expressava minha dor.
Ah, como preciso desse amor,
Já sepultei os sonhos meus.
160 -
Eu também morri contigo.
Já desabou a minha tenda.
Mas querida, peço, me entenda!
É que fiquei sem teu abrigo.
161 -
Lágrimas deixam rastros no meu rosto
Eu gritei: como estou tão ferido!
Procuro, já não acho teu ombro amigo,
Como é grande o meu desgosto.
162 -
Agora estou sem ti, ando sozinho.
Não estais aqui por perto,
E eu nesse grande deserto
Sou como pássaro sem ninho.
163 -
A dor me parte, me dilacera.
Então eu grito, volta pra mim!
Não, não digas que é o fim.
Tu és minha eterna paquera.
164 -
Sou um Jacó sem sua Raquel
Tal qual José sem Benjamim.
Também deixaste pra mim
Verdadeiras jóias do céu.
165 -
Querida, como eu te amei...
Mas tão pouco foi o tempo
Passou rápido como o vento
O porquê de tudo isso não sei.
166 -
Pergunto: será isso um sonho?
Será tudo isso verdade?
E essa tamanha saudade?!
Pensar nisso me ponho.
167 -
Sei que eu não te merecia,
Sei que tu és tão preciosa
Que de maneira tão gloriosa
Deus há muito te queria.
168 -
Mas louvado seja meu Senhor,
Pois tem me feito corajoso.
Para não agir como medroso
Em meio à tamanha dor.
169 -
Por tua ausência estou sofrendo.
Por que... Porque fostes embora,
Querida?Como fico agora?
Eternamente te querendo.
170 -
Ah, meu querido Senhor!
E se não fosse a tua mão,
Segurando meu frágil coração,
Como resistiria essa dor?
171 -
Pergunto-me o que seria de mim,
Se não fora a mão do Senhor
Que minha força renovou.
Sei que seria meu fim.
172 -
Minha alma está tão ferida!
Solto grandes gemidos
Ando um tanto deprimido
Como é difícil essa lida.
173 -
Teu sorriso está na minha memória,
Que pra mim é um encanto.
Mas hoje sofro e me espanto.
Com o final dessa história.
174 -
Meu grito ecoou. Estou trêmulo!
Agora cessou o meu canto.
Conheço apenas o pranto
Meu coração é tal qual pêndulo.
175 -
Falo como o poeta sacro falou:
“Volta amada minha
Pois grande alegria eu tinha
Envolvido no teu amor”.
176 -
Oh, meu amado General
Estou tão ferido em batalha.
Perdoa minha grande falha,
Tira-me dessa zona mortal.
177 -
Quero tuas asas de proteção.
Não estou bem nesse embate.
Guarda-me deste cruel combate,
Protege-me com tua forte mão
178 -
Dá-me do teu refrigério
E me pega em teu braço
Onde minhas forças refaço.
Livra-me deste terrível império.
179 -
Sinto dela tanta saudade...
Eu quero mesmo é estar com ela.
Tira-me desta procela,
Deste mar de maldade.
("procela", forte tempestade)
180 -
Nosso amor não terá fim.
Um dia eu estarei indo
E quero te ver sorrindo,
Bem pertinho de mim.
181 -
Deus, livra-me desta dor.
Senhor, vem e me socorrer!
Como alguém que logo corre
Para livrar seu grande amor.
182 -
Falou o sábio salmista,
Assemelhando-se ao pardal solitário
E eu já não tenho itinerário.
Assemelho-me também a esse artista.
183 -
Solitário como aquele pardal,
Bem lá em cima do telhado.
Sentindo-me todo orvalhado
Em uma tristeza mortal.
184 -
Senhor é por isto que a ti clamo,
Tira-me desta negra terra.
Já não suporto está guerra,
Perdoa-me quando assim te chamo.
189 -
A dor que me faz gemer
É a falta da minha amada.
E nessa agonia danada
Aprisiona o meu ser.
190 -
Vem Jesus, fortaleza minha,
Carrega-me em teu colo.
Estou lançado ao solo,
Por uma dor que eu não tinha.
191 -
Meu Deus que saudade cruenta
Que aos poucos me corrói
E minha força destrói!
Meu coração já não aguenta.
192 -
Só tu és o grande Deus.
Sei que podes me alentar
E me fazer descansar
Nos grandes braços teus.
193 -
Hoje olho em volta de mim.
Estou num mar de solidão.
E nesta vasta imensidão,
Parece até que é meu fim.
194 -
A tua morada vai me enlevar.
Eu sairei desta terra inóspita.
Que não é sequer a cópia
Da Terra que vou herdar.
195 -
Há na minha carne dormência,
Pela dor que me traspassa.
Já não sei guando isso passa,
Matando assim a minha existência.
196 -
Estou prestes a descer à cova.
A dor torna meu corpo inerte.
Vem, Senhor, com teu azeite e verte.
Tira-me desta horrenda prova.
197 -
Não desejo espinho, desejo somente a flor.
A dor torna meu corpo contorcido.
Sei que de Deus não estou esquecido,
Mas sinto que algo me amarrou.
198 -
Tu tens me posto no deserto,
Mas tem me dado do teu maná.
Deus semelhante a ti não há,
Sei, sempre estarás bem perto.
(“maná”, nesse contexto, graça, consolo,
Alimento do espírito)
199 -
Tenho estado na tua sombra
E sacias-me com a água da rocha.
Contigo não há quem possa,
Por isso abrigo-me na tua sombra.
200 -
Disse o salmista: “Tu me sustem com o trigo fino.
Também me sacia com o mel.”
E eu, senhor, muito desejo o céu
Por isto é que para ti atino.
(“atino”, perceber, dar atenção)
201 -
Tu és Grande e digo de coração:
Que belialnão me amole,
Pois também a minha prole,
Está nas tuas santas mãos.
(“belial”, ímpio, indigno, inútil)
202 -
Sei que tens cuidado de mim,
E não há nada que me mate.
Dás tu a provação, bem como o escape
Sei assim que não é o meu fim.
203 -
Pesada é esta minha cruz,
Deixando-me um tanto torto,
Pois também trago no meu corpo
As marcas do meu Jesus.
204 -
A dor me faz perder a consciência.
Sou homem de lágrimas e não de canto,
Insistentemente brota meu pranto
E de tudo isto já não tenho ciência.
205 -
Ah, Deus, Todo-Poderoso
O teu silêncio me consome!
Esta dor que de mim não some,
Pouco a pouco me torna medroso.
206 -
Tantas vezes eu tenho chorado...
Bem no escuro do meu quarto.
Neste silêncio eu te aguardo,
Com o intuito de ser consolado.
207 -
As minhas forças às vezes desvanecem...
Não sei se cantarei na terra da aflição
Ou será isto para mim uma ilusão?
Pois minhas esperanças já fenecem.
208 -
A tristeza me consume e me devora
E a Deus falo, conto.
Ele depressa se levanta de pronto
E lança de mim tudo isto para fora.
209 -
À terra celestial vou possuir.
Jamais serei ignaro.
Pois seria um agravo
Não poder entrar ali.
(“ignaro”, ignorante, estúpido)
210 -
Senhor, tu sabes como eu desejo
Conseguir teu grande afago.
Em teus braços não me apago
E alcanço o que almejo.
211 -
Grande é essa minha aflição.
Será semelhante à dor de parto?
Ou talvez como um infarto
Que me atravessa o coração.
212 -
A felicidade já fugiu de mim
E a tristeza bateu em minha porta.
Senhor, será que não te importas,
Que eu viva sofrendo assim?
213 -
Já sei definir o meu histórico.
Um resumo eu tenho desta vida.
Carrego na minha alma uma ferida.
Já não me encontro tão eufórico
214 -
Sofro dores, perturbações e agonias.
Gostaria que esta dor acabasse.
Que Jesus viesse e me levasse,
Para sempre com ele eu estaria.
215 -
Moraria bem longe daqui.
Habitaria na tua célica mansão.
Coisa indizível ao coração.
Jamais eu voltaria aqui.
216 -
Tua presença é uma maravilha!
Não me deixa ser como o ignoto,
Quando me abençoa e eu não noto,
Saindo assim da tua trilha.
(“ignoto”, desconhecido)
217 -
Querida esposa, como eu te amo!
És tu uma mulher mui ditosa!
Tens a simplicidade de uma rosa,
Por isto é que te chamo.
(“ditosa”, afortunada, bem-aventurada)
218 -
Estou traspassado de tanto chorar...
Meu rosto já está envelhecido...
Parece que de Deus fui esquecido.
Já não está mais a me amar.
219 -
Minha alma só geme e chora.
Tenta forçar nos meus lábios um sorriso
E não sabe que disto não preciso,
Pois a tristeza comigo ainda mora.
220 -
Tenho na alma cicatrizes.
As lágrimas deixam marcas da dor.
E não importa por onde eu for,
Elas aprofundam as suas raízes.
221 -
Tenho provado tanto choro
E uma saudade voraz!
Vem devorando minha paz
E faz desta música o meu coro.
222 -
Senhor, não quero ser inservível.
Apesar do terreno inóspito,
Sei que além do mundo cósmico
Habita um Deus incrível!
(“inservível”, que não tem serventia, imprestável.
“cósmico, universo harmonioso)
223 -
Faz-me senhor olhar para meu irmão,
Tira de mim o espírito avaro.
Assim como tu és o meu amparo,
Também quero estender-lhe a mão.
(“avaro”, avarento, mesquinho)
224 -
Querida, eu estou mui triste.
Abala até minhas entranhas.
Como coisas tão estranhas,
Será verdade que tudo isso existe?
225 -
Meu Deus, tu tudo conheces.
Sabes tu que choro por ela.
Não paro de pensar nela,
Tudo isto me entristece.
226 -
Esposa amada... Eu gostaria até
Que para mim tu fosses única.
Queria cobrir-me com uma túnica,
Só para não ser de outra mulher.
227 -
Senhor, seja para mim como uma rocha.
Deus de Isaque, Abraão e Jacó.
Sei que jamais estarei só.
És tu o meu farol, a minha tocha.
228 -
A tempestade quer me tragar,
Mas sei que o Senhor me toma
E sempre me faz vir à tona,
Para que eu não venha afogar.
229 - Mesmo neste mar tão bravio,
De grandes ondas e correntezas.
Tu me socorres com certeza,
Pois sempre em ti confio.
230 -
Eu sei que tudo é um treinamento,
Para que eu atinja a perfeição.
Não deixa, Senhor, eu falhar nesta missão.
Frustrando assim o teu contentamento.
231 -
Eu te louvo Senhor e te exalto!
Por fazer parte do teu séquito.
Eu sei que mesmo sem mérito,
Far-me-ás habitar no alto.
232 -
Amada minha, jamais eu amei alguém
Como tenho amado você.
Nunca hei de querer te esquecer.
Gostaria de não amar a mais ninguém.
233 -
Estou numa noite de pranto
Aguardando o sol brilhar.
E nessa manhã solar,
Então, soltarei um alto canto.
234 -
Sei, um dia o sol há de nascer.
Então voltarei a sorrir.
Também sei que o mal vai fugir
Quando para Deus eu correr.
235 - Adentrarei, Senhor, no teu País.
Falarei o teu vernáculo.
Quando eu deixar este tabernáculo.
Aí, sim, serei feliz.
(“vernáculo”, idioma próprio)
236 -
Só tu és o meu porto seguro,
Onde meu barco vai ancorar.
A tempestade jamais me levará.
Contigo já não eu estou em apuros.
237 -
Nunca me deixes retroceder,
Não quero sequer claudicar.
Somente para ti eu vou olhar.
Senhor, não me deixes te esquecer.
(“Claudicar”, oscilar, mancar, capengar)
238 -
Estou em estado pirético
E isso me faz adoecer.
Tudo em mim quer estremecer
Até mesmo meu corpo esquelético.
(“pirético”, febril, doente)
239 -
Amada, Deus de ti sentiu saudades
E te chamou para si, querida.
Dando-te a eterna vida
No seu reino de eternidade.
240 -
Ah, princesa, eu daria tudo de mim
Para tê-la de novo.
Sei que estais com o santo povo
Na vida que jamais terá fim.
241 -
Eu sou como o que anda sozinho.
Meu gemido ecoa no espaço.
Corro e ando em longo passo,
Pois estou em cima de espinhos.
242 -
O inimigo torcia para ver meu fim
E entoou até uma nênia,
Mas o Senhor, com sua vênia,
De repente olhou para mim.
(“nênia”, canto fúnebre)
(“vênia”, licença, permissão)
243 - Jesus, tu és a minha felicidade.
Isto eu sei e não minto.
Não passo de um mero platelminto,
Mas só tu és a pura verdade.
(“Platelminto”, verme, parasita)
244 -
Enche Senhor, a minha boca de riso,
Pois disto eu necessito tanto.
Só assim abrirei o meu canto,
Sei que louvar-te preciso.
245 -
O que eu quero mesmo é amar-Te!
Tenho todo prazer na tua lei,
Sei que faço parte da tua grei,
Meu grande desejo é louvar-te.
246 -
Importa, Senhor, que eu diminua
E venha logo a tua assoma,
Pois ainda que eu suma
Sei que a tua glória continua.
(“assoma”, aparecimento)
247 -
Sinto-me como um inútil nesta terra.
Estou como a moinha, como bagaço.
Penso e já não sei o que faço,
Um dia tudo se anula e se encerra.
248 -
Sou como aquele no anonimato.
Sinto-me desprezado e esquecido.
Não por ti, e disto eu não duvido.
Mesmo como fera no meio deste mato.
249 -
Olho para os lados.Lamento esta sina...
Mas enfim, contemplo o horizonte,
Elevando meus olhos para o monte
Como o salmista disse, meu socorro vem de cima.
250 -
Quero Senhor deitar-me em teu colo
E nele aliviar meu enfado.
Só assim, este pesado fardo,
Será lançado no solo.
251 -
Estou magro, chego a expor os ossos,
Isto tem sido minha alcunha.
Senhor, na tua rocha me ponha.
Vem tirar-me deste poço.
252 - Traz para mim o teu alento
O povo me tem sido irônico,
Com isto sou antagônico,
Pois aborreço todo este sofrimento.
253 - Meu olhar está parado. Perco a direção.
Sentindo-me todo ilhado
Como algo que está encalhado,
Abalando toda minha emoção.
254 -
Senhor, esta dor é tão cruenta
E a saudade é como uma pantera.
Pouco a pouco me dilacera.
Minha alma já não aguenta.
(“cruenta”, perversa, cruel)
255 -
Sei que esperança eu já não tinha
De levantar o grande troféu,
Mas vou receber meu laurel,
Pois a vitória já é minha.
(“laurel”, prêmio, honraria)
256 -
Tudo que me acontece
É segundo a tua vontade
E pela tua infinita bondade
Jamais me esqueces.
257 -
Tenho chorado noite e dia
Esta dor tão complexa
Na minha alma anexa,
Uma tamanha agonia.
258 -
Tenho servido de motejo
Neste caminho mui escabroso,
Mastu fazes-me corajoso
Por isto sempre pelejo.
(“motejo”, zombaria)
259 -
Prossigo eu a caminhar.
Uma voz me diz: “Tudo acabou”
Mas outra me diz:O GRANDE EU SOU
Não temas, é só confiar!
260 -
Estou envelhecido de tanto chorar
E por vezes perco meu sono.
Minha comida eu já não como.
Senhor, vem logo me alegrar.
261 -
A tua palavra é mui fiel
E não é algo espúrio.
Eu não sou um ser hercúleo
Vem logo tirar-me deste fel.
(“espúrio”, falso)
(“hercúleo”, muito forte, robusto)
262 -
Sou um simples camponês
Aguardando o teu socorro.
Lá para a montanha eu corro,
Pois sou um homem montês.
(“montês”, dos montes, montanhês)
263 -
Habito aqui no meio do mato
Não passo de um silvícola.
Vem, Senhor, socorre este rurícola,
Pois tenho da vida sofrido maus tratos.
(“silvícola”, habitante da selva)
(“rurícula”, que vive na zona rural)
264 -
Eu preciso do teu abrigo
E disto eu estou convicto
Que jamais estarei invicto
Se tu não fores comigo.
265 -
Foram tiradas de mim
As bênçãos da consolação
E as marcas da devastação
Quase que assinalam meu fim.
266 -
Estou caído no solo
Sofro aperto e tristeza.
Senhor, vem e dá-me a certeza
Que tens me levado no colo.
267 -
Sou como o órfão perdido,
Não vejo nenhuma direção.
Não me deixes caído no chão.
Não me tenhas por esquecido.
268 -
Chego a perder o equilíbrio,
Pois tenho sofrido opróbrio.
Sinto-me como um micróbio,
A vida é para mim um ludíbrio.
(“Opróbrio”, desonra, humilhação)
(“ludíbrio”, ilusão, engano)
269 -
Achei até que fosse meu fim,
Nesta luta tão carrasca.
Em meio a tanta borrasca
Jesus olhou para mim.
(“borrasca”, tempestade, rajadas de vento)
270 -
Pensei: “Eu já estou no final
Escapei apenas por um triz,
Foi o Senhor que assim quis
Livrar-me de queda tão fatal.
271 -
Sofro aperto de todo lado,
Fui expulso do casulo.
Nessa dor eu me anulo.
Estou muito angustiado.
272 -
Só há lágrimas e tormenta
E esse mal que me assola.
A dor sem trégua me amola
E minha alma acorrenta.
273 -
Eu estou todo amarrado,
Qual múmia em ataduras.
Senhor, quebra essas ligaduras,
Sou um homem angustiado.
274 -
Socorre-me antes que eu morra.
Deus, glorifica o teu nome,
Pois um dia agente some
Esquecido em uma fria masmorra.
275 -
O sofrimento faz-me refletir
E espalhar teu santo brilho.
Não me deixe sair do teu trilho.
Para sempre quero existir.
276 -
Tu és Senhor, meu eterno fanal,
Sempre iluminando meu caminho.
Sei que nunca estou sozinho
Neste combate fatal.
(“fanal”, guia, farol)
(“invólucro”, que envolve ou cobre)
277 -
Meu invólucro quebrei.
Estou querendo voar sozinho.
Não sou águia no ninho,
Dos altos penhascos gritei.
278 -
Grito no silêncio do meu quarto.
Mestre, vem e me acodes.
Eu sei, Senhor, que tudo podes.
Sou como a que tem dores de parto.
279 - Sou como a brava figueira,
Inutilmente ocupo a terra.
Estou em constante guerra
Pelejando uma vida inteira.
280 -
Arranca-me, peço-te Senhor,
Mas não me lances fora.
Pois o que te peço agora
É que da minh’alma tire essa dor.
281 -
Sei, Senhor, que não sou nada.
Apenas caco, pó e verme.
E o meu corpo ficará inerte
No esquecido onde se acaba.
282 -
Querida minha, dá-me do teu beijo!
Põe no meu ombro o teu braço.
Envolve-me com teu abraço,
Isto é tudo o que almejo.
283 -
Tu és jóia de valor inestimável!
A tua presença só me enriquecia.
Nesta vida nada mais eu queria,
Hoje não passo de um miserável.
284 -
Como me alegrar, se me falta uma parte?
Senhor, como posso ser feliz
Se tu mesmo é quem diz
Que serão os dois uma só carne?
285 -
Sou como o pássaro aprisionado.
Cujas asas estão cortadas
Estou fora da revoada.
Meu coração está angustiado.
286 -
Não consigo mais sorrir,
Parece que o inverno não cessa.
E nesta dor eu tenho pressa,
Tenho vontade de fugir.
287 -
Querida, como a minha alma sente,
Teu sorriso tão real.
Entretanto logo percebo: É algo “virtual”
É tudo fruto da minha mente.
288 -
A dor é algo tão impregnado
Que tira a minha razão de viver.
Estou pestes a perecer
Com meu sorriso é disfarçado.
289 -
Hoje sou apenas uma neblina
E vou-me indo como vapor
Como a erva de telhado que murchou
E para o fim se destina.
290 -
Minha esposa amada
Daria tudo para estar contigo,
Reclinar-me no teu ombro amigo.
A minha alma está tão enfadada.
291 -
Eu te invejo minha querida.
Grande foi a tua sorte.
Com Jesus não há mais morte,
Agora tens a eterna vida.
292 -
Hoje estou sem ti, ai de mim!
Mas louvo e exalto meu Senhor,
Que minhas forças, renovou.
Sem ele seria meu fim.
293 -
Minha alma está mui ferida.
Estou preso. Solto apenas gemidos,
Um tanto que deprimido.
Como é difícil esta lida.
294 -
Acho que está tudo acabado,
É o que às vezes penso.
Ultimamente estou tão tenso...
Como alguém desesperado.
295 -
Ouço Deus falar: “Eu te carrego filho”.
Senhor, suave é a tua voz.
Quero ficar contigo a sós.
Revela-me o teu brilho.
296 -
Santo Espírito da verdade
Mostra-me tua linda face
E antes que esta vida passe
Vem nos trazer felicidade.
297 -
Sei que fiquei sem minha amada
E estou preso na solidão.
Estou prostrado neste chão,
Com a alma tão amargurada.
298 -
Querida, dá-me o teu calor,
Ah, esposa admirável!
Sou agora um miserável!
Mendigando o teu amor.
299 -
Sinto em meu peito um ardor,
Grande é tua falta e ausência
Chego perder a paciência,
Querendo livrar-me desta dor.
300 -
Disseram de mim: “Ele não é fraco,
É valente e muito forte.
Gente olhe o meu porte!
Não passo de um simples caco.
301 -
Dou ao meu Deus toda glória!
Pois até aqui me sustentou.
Nunca, nunca me desamparou.
Está mudando a minha história.
302 -
Éramos poucos, apenas quatro.
Hoje só somos três.
Fui abatido de uma só vez,
Sufocado pelo maltrato.
303 -
Já não há forças para resistir.
Tira-me deste vasto mundo.
Sinto-me tão moribundo,
Tenho vontade de partir.
304 -
Não te cales, oh meu Senhor,
O teu silêncio me consume
E essa angústia que não some
Acaba meu resplendor.
305 -
Como o bêbado eu cambaleio
Embriagado nesta dor.
Mas quando para aí eu for
Aniquilarei o meu anseio.
306 -
Não me deixes viver ao léu.
Eu quero mesmo é ir embora.
Não por este mundo a fora,
Meu desejo é morar no céu.
307 -
Senhor, estou ansioso para partir
Não suporto este fardo.
Grande é este meu enfado
Que me esmaga sem desistir.
308 -
Melhor é estar contigo
Onde não há dor e nem contrição.
Tu és mais chegado que um irmão
És meu pai, meu grande amigo.
309 -
Deus, tu és a verdadeira alegria.
Para o fraco és fortaleza.
Ondeages com destreza,
Pondo fim nesta agonia.
310 -
Às vezes clamo,e não me respondes.
O meu choro te é notório,
Tu não és para mim ilusório.
Onde, então, te pondes?
311 -
Tu és grande e tens minha admiração.
Mesmo tão Santo e perfeito,
Não atentas para meu defeito.
Não tendo eu nenhuma admiração.
312 -
Deus meu, tudo é tão sombrio...
Cada dia mais me conscientizo
Que de ti sempre preciso.
Não passo de um homem vil!
313 -
Sofro esta dor tamanha.
A tristeza tem sido minha companhia.
Este mal faz cessar toda alegria
Para mim é como coisa estranha.
314 -
Às vezes sinto-me tão só...
Sem valor, como jogado no lixo.
Sou semelhante a um bicho.
Tal qual o vermezinho de Jacó.
315 -
Estou todo amarrado, estou preso.
Não posso sair, caí em grande laço.
Estou moído e em bagaço,
Perplexo e mui surpreso.
316 -
Estou angustiado, choro constantemente.
Sou como um barco que afunda
E esta tristeza profunda
Faz perturbar a minha mente.
317 -
Quando, Senhor, cessará o meu pranto?
Quando terá fim o meu gemido?
Não me tenhas por esquecido,
Como alguém encostado no canto.
318 -
Até quando estarei ferido?
Será que voltarei a sorrir?
Faz de mim esta dor fugir...
Encontro-me todo perdido.
319 -
Meus ombros estão cheio de dor.
Soterraram os meus sonhos.
Sei, Senhor, estou sendo enfadonho.
Sou perseguido por onde eu for.
320 -
Tem morado comigo o sofrimento,
Penso que já não olhas para mim.
Chego a pensar que é meu fim.
Assolam-me maus pensamentos.
321 -
Quando,Senhor, virás até nós?
O inimigo quer me fazer temer.
Não te é oculto o meu gemer,
Mas em mim não há mais voz.
322 -
Abro um sorriso um tanto sem graça.
Usando da boca um canto.
Foi-se o brilho e o encanto
Como neblina que logo passa.
323 -
Nessa batalha, não tenho para onde fugir.
Há muito tempo que pelejo,
Pois a morte com seu beijo
Tentando vem me seduzir.
324 -
Encontro-me em árido deserto
Já não acho a sombra
E a dor, esta fera que me assombra,
Anda espreitar-me bem de perto.
325 -
Já enchi o teu odre
Com as lágrimas que derramei,
De tudo já me esvaziei.
Vem, Senhor, socorre este pobre!
326 -
Sei que fazes tudo novo.
Sei também que nunca falhas,
Entra até dentro de fornalhas
Somente para livrar o teu povo.
327 -
Também sei que farás uma coisa nova,
Pois faço parte do teu povo.
Sei que me quebras e faze-me de novo,
Pondo-me assim em grande prova.
328 -
Por noites, tenho rolado na cama.
Tenho perdido até o sono,
De repente um susto eu tomo
Pela dor que me queima como chama.
329 -
Em Meseque eu sou peregrino.
Habito nas tendas de Quedar,
Desejo sair de Lo-debar
Da terra do silêncio, do negro destino.
(“Meseque”, “Quedar”, lugares de deserto, angústia
é um lamento, pois deseja paz)
330 -
Apressa-te Senhor, vem me acudir!
És tu meu amparo, meu auxílio.
Estou cansado deste exílio.
Vem, Senhor, quero voltar a sorrir...
331 -
Estou cansado de tanto gemer.
A dor tem seguido meu rastro,
Em tudo vejo o seu alastro.
Socorre-me, Deus, não me deixes perecer.
(“alastro”, alastrado, espalhado, aumento)
332 -
Quando amanhecerá o meu dia?
E a noite tão longa cessará?
Quando este inverno passará,
Surgindo belos raios de alegria?
333 -
O mal insiste em calar-me,
Perturba-me e me assola.
Essa dor, dia a dia me amola!
Querendo fazer parar-me.
334 -
Levanto minha voz.Meu gemido ecoa.
Teus odres minhas lágrimas já encheram
Acho que meus sonhos já morreram.
Senhor, tenho eu clamado à toa?
335 -
Já há três tempos que pranteio
Até grito, gemo e choro.
Quantas vezes a ti imploro?
Deus, afasta de mim tal receio...
336 -
Tira-me de situações tão instáveis.
Clamo a ti, peço, e tomara,
Que tornes estas minhas águas de Mara,
Em doces águas palatáveis.
337 - Não fiques em silêncio para comigo.
A tua voz me faz prosseguir.
Não deixe o teu servo desistir,
Poisés o verdadeiro abrigo.
338 - Nesta noite escura de solidão.
Ansioso, aguardo a aurora.
Desejo, e não vejo a hora,
De alegrar meu coração.
339 - Muitos amigos já se foram
Estou só nesse deserto.
Não vejo ninguém por perto,
As meninas dos meus olhos choram.
340 - Hoje minha música é triste,
Chegou meu temido inverno.
Mas tu, ó Deus, que és sempiterno,
Arranca está dor que persiste.
341 - Minha alegria é escassa
Sinto-me em profunda cova,
A dor desta ardente prova
Parece que nunca passa.
342 -
Retira a tua mão de juízo,
Estende tua mão de benevolência.
A minha alma te pede clemência,
Pois estou em grande prejuízo.
343 -
Vem, amado meu, vem me socorrer,
Estou abatido e mui triste.
A negra solidão insiste,
Pouco a pouco a me corroer.
344 -
Fale comigo, ó grande Deus,
Escuta, Senhor, a minha voz.
Livra-me deste inimigo algoz.
Atende aos apelos meus.
345 -
A dor traga-me como a sepultura.
Vem, Deus, arranca-me das garras dela,
E da morte que por mim anela.
Desta horrenda criatura.
346 -
Sou como o vale de ossos secos.
Meus sonhos foram embora.
Não sei o que fazer agora,
Estou sitiado em grandes cercos.
347 -
Tu és Deus excelso e soberano,
Tens em tuas mãos a minha vida.
Mostrarás uma saída,
Pois em ti não há engano.
348 -
Sinto minha alma gritando dizendo:“Ai,
Não sei se me resta esperança”.
Sinto-me tal qual criança
Que anseia pelos braços do pai.
349 -
Estou abalado por um terremoto de problemas
Que quer soterrar a minha fé.
Não sei se continuarei de pé.
Minha alma vive um eterno dilema.
350 -
Não sei o que será de mim...
Desejo o sono de todos os mortais.
Força em mim não existe mais.
Chego a pensar até que é meu fim.
351 -
Tenho clamado a ti todo dia.
Onde estás, Senhor, que não respondes?
Porque de mim o teu rosto escondes?
Livra-me desta intensa agonia.
352 -
O meu coração está adormecido
Pela esperança tão demorada.
Sou como a folha que levada
Pelo vento foi pelo eterno esquecido.
353 -
Longa tem sido esta estrada
Tenho deixado um rastro de pranto,
Quando olho até me espanto.
Quando,Senhor, no céu terei entrada?
354 -
Restaura o meu lugar assolado,
Transforma meu deserto em jardim
Antes que eu veja o meu fim,
Pois de lágrimas estou encharcado.
355 -
Senhor, sei que poderoso tu és.
Livra-me deste cruel impasse
E se não posso ver a tua face
Mostra-me apenas os teus pés.
356 -
Deus, só tu és a minha rocha.
Em ti tenho grande confiança.
Sou um Jeremias, não passo de uma criança.
Repito. Não deixe extinguir a minha tocha.
357 -
Voarei ao paraíso do amor,
Pois sei que aqui tudo se encerra.
Então, deixarei esta terra
Quando daqui embora eu for.
358 -
Faço minhas as palavras de Jó:
Com meu rosto já descorado
Ando chorando por todo lado
Penso as vezes que estou só.
359 -
“Sois companheiros molestos”,
Desabafou assim o amigo Jó,
Aos que com ele estavam no pó.
Tais amigos não eram nada modestos.
360 -
Acusações também tenho sofrido,
Como o meu irmão na fé.
Mas Deus me sustém de pé,
Mesmo estando ferido.
361 -
A mão do Deus todo poderoso
É a mão que me sustém.
Mesmo que eu sofra desdém
Ele faz-me forte e corajoso.
362 -
Às vezes sou incompreendido,
Pelos mais íntimos irmãos,
Que mesmo me vendo no chão
Não sabem o quanto estou ferido.
363 -
Sou como um vaso quebrado
Pelas mãos do grande oleiro.
Depois, sei, que ficarei inteiro
Quando então eu for restaurado.
364 -
Esposa amada, minha alma te anela!
Como almejo te encontrar.
Eu passo horas a chorar
Encostado na janela.
365 -
Pôs-se o sol detrás do monte
A luz da minh’alma já fenece
Como quem desaparece
Lá no infinito horizonte.
366 -
Já não as temos por perto.
Duas grandes colunas removidas
Que nos causaram tantas feridas,
Ah, que infindo deserto!
367 -
Senhor, tenho chorado com a alma!
Meu gemido não te é oculto.
Tens me acompanhado como um vulto,
Por isto a alegria me falta.
368 -
Estou em constante pranto,
Cujas lágrimas são tão quentes.
E por mais que eu tente
Não consigo entoar um canto.
369 -
Sei que um dia adentrarei
Naquele país do amor.
Onde não haverá mais dor,
Pois a paz ali desfrutarei.
370 -
Almejo logo ir embora
Para este lugar de santidade.
Onde reina a felicidade,
Sim, quero ir sem demora.
371 -
Mergulharei no rio da vida
De aspecto cristalino,
Sem vestígios de salino.
Lá sararei todas as feridas.
(“sem salino”, que não é salgado)
372 -
Para onde eu vou
Nunca mais hei de chorar.
Vou apenas me alegrar,
Pois o tempo de cantar chegou.
373 -
Já não chorarei convosco
Pois ali isto não tem.
O Senhor me disse: “Vem
Eu tirarei todo teu desgosto”.
374 -
A tua vontade é boa,
É perfeita e também agradável.
Sou apenas um miserável,
Como aquele que anda à toa.
375 -
Estou muito perturbado!
Mas meu amparo tu és.
Prefiro está aos teus pés,
Ainda que angustiado.
376 -
A noite tem sido tão escura
E eu choro até pegar no sono.
Então o cálice amargo tomo,
Numa taça cheia de amargura.
377 -
Minha alma chora e soluça,
Faz meu corpo estremecer.
A vida aprendi aborrecer,
Mas esta nas minhas veias pulsa.
378 -
Uma ave lá fora cantava
Numa madrugada bem fria.
Enquanto isto, minha alma gemia.
E minha voz embargava.
379 -
A dita ave comemorava
A alegria do amanhecer.
E eu, pouco a pouco a morrer,
Força já não encontrava.
380 -
Mas sei que vou conseguir
Sair deste caminho escabroso.
E ainda que de modo doloroso
Eu preciso prosseguir.
381 -
Senhor, o vale está tão escuro...
E me reserva fera extra.
Mas debaixo da tua destra,
Eu sei que estou seguro.
382 -
Há tristezas no meu coração
Isto tenho a cada dia.
Meu Deus, como eu gostaria
De ter tua inteira atenção.
383 -
Estou tentando ressuscitar,
Pois como disse, também morri com ela,
E esta dor cruel que me martela
Não me deixa levantar.
384 -
Sei que pesada é minha cruz,
Pois crucificado estou com Cristo.
Vai valer à pena tudo isto
Para um dia eu ver Jesus.
385 -
Disse Paulo: “Já não vivo mais eu,
Mas Cristo vive em mim”.
Também quero viver assim
Em todos os dias meus.
386 -
Também cravado eu estou
E com Cristo lá estarei,
Onde ali me manifestarei,
Pois ele me glorificou.
387 -
Já venceu a minha morte
Para eu viver em plena vida.
Suportou tantas feridas
E mudou a minha sorte.
388 -
Deus, glorifica o teu nome,
É este todo o meu querer.
Que a cada dia, tu possas aparecer
E que diminua este homem.
389 -
Se minha dor te glorifica
Que isto em mim se faça.
Pois eu sei que tudo passa,
Somente tua palavra fica.
390 -
Senhor, o inimigo tem tentado
Manchar-me com suas mesclas,
Trazendo consigo seus asseclas.
Mas tu tens me sustentado.
(“asseclas”, seguidores)
391 -
Mui grande é o nosso Deus.
A tua graça é bendita,
A tua glória é inaudita
E firma os passos meus.
392 -
Sei que prevalece o teu querer
E tua ordem é peremptória.
És um Deus que muda a história,
Não me deixas perecer.
(“peremptória”, decisiva, definitiva)
393 -
Hoje sei Senhor, que não é o meu fim.
Não permitas que eu venha reclamar.
Dá-me forças para eu suportar,
Pois uma vez suportastes por mim.
394 -
O pecado me rodeia de tão perto
Está armando os seus laços.
Não quero os seus embaraços
E disto estou bem certo.
395 -
O inimigo quer tirar minha primogenitura,
Oferecendo-me um bocado de lentilha.
No entanto sei que tudo isto é armadilha
Desta horrível e cruenta criatura.
396 -
Sofri uma grande explosão!
Como que por dinamite.
Já cheguei no meu limite.
Estou lançado ao chão.
397 -
Vem e socorre-me Senhor!
Minha alma está tão triste...
Este mal persiste
Alimentando esta dor.
398 -
Deus, eu estou mui arrasado!
Tenho sonhos perturbadores.
Que são reflexos dos horrores
Que eu tenho passado.
399 -
Sei que o aguilhão da morte
É o terrível e cruento pecado
E quer pôr em mim o seu fardo,
Aniquilando assim a minha sorte.
400 -
Senhor, sei que não me abandonas.
De longe estás a me observar.
Sei que no céu vou chegar,
Pois em teus braços me tomas.
401 -
Quando penso na tua bondade
Emociono-me e chego a chorar.
Pelo teu povo estás a guerrear,
Trazendo-nos felicidade.
402 -
Solto gemidos involuntários.
Sai do mais profundo do meu ser.
Chego até mesmo a adoecer,
Por tantos revezes contrário.
403 -
Sei que estou numa terra estranha,
Mas com licença eu vou além.
Lá para célica Jerusalém,
Livre desta dor tamanha.
(“célica”, celestial)
404 -
Meu país é lá, no lindo céu.
De lindos campos verdejantes,
Flores tão vivas e vibrantes
Que se encontram além deste véu.
405 -
Unge-me com teu santo óleo,
Pois meu semblante está caído.
Sou como pássaro ferido,
Mas tu és Rei no teu santo sólio.
(“Sólio”, do latim, acento real, trono)
406 -
Já estou livre do grande abismo
E jamais sofrerei tal pena,
Pois o Senhor livrou-me do Geena.
Fui selado pelo teu batismo.
407 -
Aguado por um lindo sol nascente!
Sairei desta condição de escória,
Pois tu és quem reescreve minha história.
Sei que a dor minha tu sentes.
(“Geena”, do latim, inferno)
408 -
Quando o inimigo quer me atacar
Faz jorrar meu pranto.
Todavia eu te invoco e canto,
Leão da tribo de Judá.
409 -
Sei que nunca nos deixas só.
Mesmo quando minha alma se arrasa.
Aí, então, eu corro para tua casa.
Desejando ouvir tua voz.
410 -
Não me adianta querer fugir,
Desta incessante guerra.
Minha vida é como porta que se emperra,
Recusando-se abrir.
411 -
Sinto no meu peito uma dormência
Pela dor que pouco a pouco me dilacera.
Devora-me qual terrível fera,
Fragilizando toda minha consciência.
412 -
Ainda que eu esteja lançado no monturo,
És tu minha eterna esperança.
Não quero estar ligado a carrança.
Pois tu és meu brilhante futuro.
(“Carrança”, passado)
413 -
Desejo muito Senhor, aliviar este enfado,
Morar no mundo dos que vivem contentes.
Onde dor jamais ninguém sente,
Para sempre está do outro lado.
414 -
Almejo morar na terra do amor,
Onde não haverá mais cruzes.
Habitarei com o pai das luzes
Quando para ali eu for.
415 -
Só habitarão e estarão contigo
Aqueles que fazem a tua vontade.
Aí, sim, conheceram tua plena bondade
E o teu maravilhoso abrigo.
416 -
Não consigo andar. Estou cansado
De peregrinar nesta negra terra,
Onde tudo é peleja, tudo é guerra.
Porém lá no céu não há enfado.
417 -
Quero estar debaixo das tuas asas,
Escondido no teu santo pavilhão
Onde teremos nossa mansão
E não simplesmente casas.
418 -
Jesus me tem dito: “Seja forte
Pois tudo isto não é o fim,
É apenas o início para mim
Nesta viagem sou o teu passaporte”.
419 -
Um dia estarei além da terra da dor,
Onde tudo ali é só primavera.
Não terei mais que enfrentar esta fera,
Esta vida de desalento e dissabor.
420 -
Senhor, estou sedento de ti.
Quero pôr minha face em teu colo,
Não ficar lançado ao solo
Já não quero viver aqui.
421 -
Minha alma grita pelo Deus vivo.
Não posso viver sem ti.
Não desejo habitar aqui,
Pois desejo habitar contigo.
422 -
Só tu és meu Deus, meu grande amor,
Quero estar em ti escravizado,
Jamais de ti ser alforriado.
Quero estar preso ao meu Senhor.
423 -
Senhor, não há nada aqui especial.
Estou caminhando aos empurrões.
Desejo sair destes torrões
E adentrar a mansão celestial.
424 -
Quisera eu poder correr e te abraçar,
Mas ainda sou matéria em plano não espiritual.
Então tocar-te é como algo virtual,
Suspiro. Parece que estou a sonhar.
425 -
Da tua presença tenho fome.
Estão em mim as marcas da dor.
Não importa, sei que por onde eu for
Glorificarei teu excelso nome.
426 -
Para o céu desejo fugir.
Desejo novos ventos, novos ares.
Também quero do Espírito os seus mares
E de lá jamais sair.
***
***