Por Nilson Silva.
1
Já falei de muitos amigos
E um dia em si a gente cai
Como quem a dizer assim:
Porque não falar de meu pai?
Então abri a gaveta
Peguei papel e caneta
E com inspiração o verso sai.
2
Em mil novecentos e trinta e oito
João Alves da silva nascia.
Não tinha um berço a lhe esperar
Mas de nada disto ele sabia.
Aquele pobre menino
Não imaginava que seu destino
Muita luta lhe traria.
3
Nós costumamos chama-lo
De João o grande herói,
Em que construiu uma história
Que a traça não corrói.
Não tinha muita esperança
Lembrar-se do tempo de criança
Isso às vezes ainda lhe dói.
4
Fica órfão de mãe e pai
Quando ainda era um bebê.
Foi criado por mãos alheias,
Escute o que vou dizer
Nada aqui é ficção
É uma história de comoção
Que vou narrar para você.
5
Foi criado com carinho
Pela família que o adotou.
Era um menino especial
E por isto lhe tinham amor.
Neste vasto mundo
Nunca ficou um segundo
Sem demonstrar seu valor.
6
Sempre levantou de madrugada,
Mais esperto que um coiote.
Enchia todas as vasilhas,
Inclusive, grandes potes.
Lá enrolada na parede
Já se encontrava sua rede
Nunca perdeu o seu dote.
7
O dono da casa levantava,
Mas a João nunca encontrou
Deitado até muito tarde.
Disto ele muito se admirou.
Nunca encontrou João dormindo,
Quando via já estava indo
Executar o seu labor.
8
Casou com uma bela moça
Por nome Laura Batista.
Mulher firme e encantadora
E também muito bem quista.
A mesma era sua prima,
E João com muita estima
A bela moça conquista.
9
Mas por um breve momento
Ela teve que nos deixar,
Pois Deus para si a tomou
Para com Ele habitar,
Como quem a dizer assim:
Ela agora vem para mim
Vem comigo aqui morar.
10
Mamãe já não está conosco
Para presenciar este momento
Como disse Deus para si a tomou,
E nos aflora um sentimento,
Sentimento de grande saudade,
Mas ela encontrou a felicidade
Lá no seu santo aposento.
11
A vida tem suas surpresas
E nos preparou uma fatalidade,
Ensinando-nos que aqui
Nem tudo é de felicidade.
Também tem dor, também tem ai!
Deixando viúvos filho e pai
Esta é a dura realidade .
12
Nascem cinco filhos
Desta genuína união
Que não levam o pai no bolso,
Pois isto não tem noção.
Vencemos todos os entraves
Não o guardamos com sete chaves
Pois o guardamos no coração.
13
Aqui estão seus filhos
E esta esperança ele tinha
Estivessem presentes
Nildo, Neide e Detinha,
E Auzenate não esqueceu
Seus bisnetos, netos e eu (Nilson, que lia o verso)
Que para esta festa a gente vinha.
14
João Alves, Deus te fez
E te fez com grande apreço.
Deu-me a honra para falar de ti
Mas esta honra eu não mereço
O criador foi bom contigo
Mas João divida comigo
Pois desta honra careço.
15
Honra que te dá valor
De uma maneira fenomenal,
Deus te fez único no mundo
E não existe o teu igual,
Deus assim te escolheu
De ti nunca se esqueceu
Pois és muito especial.
16
Tem te dado vida farta
Com alegria e com saúde,
Agradeça sempre a Deus
Por esta imensa virtude.
Entregue a vida a Ele
Nunca se esqueça dele
Pelas suas solicitudes.
17
Estás fazendo oitenta anos,
Mas “não tem quem diga”.
Dirige carro, trator e moto,
Não sente nem dor de barriga.
Já se operou do coração
Mas teimoso é este João
Não para nem com surra de urtiga.
18
Já ganhou nome que só
De João ganga, "culu" e "truta",
Que é nome de um peixe,
Não pensem que é nome de fruta.
Também João da caçamba
Que já tá é de perna bamba
De fugir desta disputa.
19
De humilde boia fria
A pequeno produtor de manga.
Não importa se é João Alves
Ou mesmo João da caçamba.
“Todo tipo de serviço eu fiz”
Com esta retórica, ele diz.
“Aqui tem pano pra manga”.
20
“Não tinha um pau pra dar num gato,
Sempre trabalhei de empregado.
Mas nunca rejeitei peru por gordo
Nem pato por carregado”.
Assim Ele fala com orgulho
Se o grão é limpo ou com gorgulho,
No seu prato ele é traçado.
21
“Morei na casa dos outros,
Mas nunca puxaram o punho da minha rede.
De madrugada muito cedinho
Eu já a pendurava na parede
Nunca sequer dei lugar
Pra ninguém me reclamar
De retidão eu tenho sede.
22
Não importava o tipo de trabalho.
Se no leste, sul ou norte,
A pé, de burro ou de bicicleta,
Carro de boi, qualquer transporte.
Na luta pelo pão ele corria,
Fosse de noite ou de dia
Queria mudar sua sorte.
23
Foi diarista, servente e mecânico,
Mestre de obras, e também pedreiro.
Trabalhou em muita profissão,
Muitos anos só de carpinteiro.
Já foi encanador e mestre de engenho
Fez tudo isto com grande empenho
Mesmo quando era cabeceiro.
24
Sempre deixou a sua marca,
Um rastro de honra e honestidade
Sempre foi assim que ele viveu
Em busca da sua felicidade,
Ainda que morasse numa choupana,
Casa rica ou cabana.
Fosse no campo ou na cidade
25
Fazia tudo pra sustentar a família,
Sua mulher e cinco filhos.
É uma verdadeira locomotiva
Sempre apoiada nos trilhos.
Nós tínhamos o sol e a lua
Que clareavam nossa rua,
Somos estrelas cheias de brilho,
26
Não é nenhuma ostentação
Falar o que já possuiu,
Pois foi com muita peleja
Que tudo isto conseguiu.
Ferrenha foi esta luta
E desta grande disputa
João nunca desistiu.
27
Assim fala o guerreiro João
Este homem valoroso:
“Eu lutei com unhas e dentes
Nunca me mostrei medroso,
Empunhando a minha espada
Ao longo desta estrada
Mostrei-me corajoso”.
28
Mas não adianta ganhar o mundo
E no final perder a sua alma.
Assim nos fala o mestre Jesus
Com a sua serena calma.
Para Ele eu tiro o chapéu
Pois é o dono do céu.
E para Cristo batemos palmas.
29
João é brincalhão e piadista,
Ele e suas estórias de graça.
Como a cachorra que criou um pinto,
Como ele não tem quem faça.
Mas da realidade ele fugiu.
O pinto ao invés de piar, latiu.
Vai mentir assim em outra praça.
30
E quem não lembra da serpente
De quinze metros que encontrou
- “Isso é lá serpente compadre!”.
Assim o outro ironizou.
Esse não tinha sentimento
Mas de olho a olho era o comprimento
Da serpentezinha que achou.
31
Agora de repente, lá no mato,
Um barulho ele escutou.
O compadre meio medroso
Assim ao outro perguntou:
- “Alguém corta de machado?”.
O outro disse: -“Não! Ali é o piscado”
Da cobra que o senhor duvidou.
32
Seu João deixa de estória
Se quiser morar no céu
Quem mente não entra lá
Vai morar é no beleléu
Se não a morte vem
E não respeita ninguém
E ainda te faz: créu!
33
João morou em vários lugares,
Mas não é aqui o seu rincão.
Hoje conta suas histórias
E fala com muita emoção
Não há argumento que sobra
Pois foi aqui na maniçoba
Que deixou o seu coração.
34
Aqui fez grandes amizades
Isaías,Damiana,Walter e Dezin.
Vada, Ranieri e Gildemar,
Zé Aire, Adalberto, Luíz... Pois sim...
Quando lhe faltava o “tutu”
Deus falava ao amigo Dudu
E este lhe socorria, sim.
35
O que falar do amigo Nogueira?
Que Muitas vezes conosco chorou,
Juntamente com sua família,
Amor por nós demonstrou.
Muitas vezes estava presente
Como alguém que também sente
A dor que nos traspassou.
36
Não estou esquecendo da família,
Principalmente a de “Pedão”,
Que saiu lá de Goiânia
Para estar com seu mano João,
E o que falar de Neto
Que muitas vezes foi um teto
Para o nosso ferido coração
37
“Pedão”, uma coisa te falo:
Tu és tio, pai e amigo.
Sempre socorrendo a família
Servindo-nos de abrigo.
Tens um grande coração
É, sem nenhuma bajulação,
Que tudo isto te digo.
38
Desculpe, se seu nome não falei,
Mas você também é importante,
Pois seu valor não se resume
Apenas agora neste instante,
Pois os amigos verdadeiros
São fiéis o tempo inteiro
De uma forma mui constante.
39
Aqui tem homem e tem mulher,
Tem menino e também menina.
Tem gente lá de Brasília
E tem também de Petrolina.
Tem de Recife e Fortaleza,
São Paulo e Goiás com certeza.
Nesta festa tem gente fina.
40
João teu coração falou:
“Tenha cuidado comigo”
Logo viajou para Recife
Com o seu dileto amigo que
Não mediu nenhum sacrifício.
Pois, assim falou Agrício:
- “João eu estou nessa contigo”.
41
Lá fez duas pontes safenas.
Mas ponte fala de caminho
Tu ainda tens muita estrada
Deus te fala com carinho:
“Quando não puderes andar
No colo vou te carregar
Aqui no nosso santo cantinho”.
42
Eras pra te chamar João de barro,
Pois teu negócio é o cheiro da terra.
Nunca gostou da cidade,
Gosta mesmo é do pé de serra.
Ver a mata toda orvalhada,
Ouvir o canto da passarada
Onde há paz e não há guerra.
43
Hoje contempla o verde campo,
Não és urbano e sim rurícola.
Desfruta da tua bela roça
E do teu lindo lote agrícola.
É um homem bem criativo
Não importa se é nativo
Ou até mesmo silvícola.
44
Foi aí que Deus te colocou
Neste lindo lugar de glória,
Pois foi ele que quis assim
Escrever toda a tua história.
Deus te deu um grande nome,
João, tu és um homem
Que jamais serás escória.
45
Entre a luta e vitória
É o título deste verso.
Falar de um homem assim
Não é fácil e eu confesso.
Não falo de qualquer um,
Pois não existe nenhum
E tudo isto eu atesto.
46
Verso já não escrevo mais
E de fininho eu me retiro,
Se alguém falar em verso
Vai ver que eu atiro.
Nem adianta me pedir
Pois daqui eu vou é fugir
É isto mesmo que prefiro.
* * *