02 - Anjos segundo a Bíblia
Começaremos buscando o conhecimento sobre anjos, bem quanto à questão, à possibilidade ou não de contactarmos o anjo, em especial o anjo da guarda.
Anjo (no hebraico malak; no grego angelos), significa mensageiro ou servidor celestial.
A Bíblia fala em vastas hostes de anjos bons e maus, embora ressalte que todos os anjos foram, originalmente, criados santos e bons (Gênesis 3.31).
A presença de um anjo é referida pela primeira vez no capítulo 16 de Gênesis, por ocasião da fuga de Agar, escrava de Abraão, uma vez que ela se encontrava grávida. O anjo faz referência ao nascimento de Ismael.
A segunda vez é no capítulo 18, também no livro de Gênesis. Abraão tinha muitos bens, mas o bem maior lhe faltava: um filho. Ele se entristecia com isso, e temia que o damasceno (natural da cidade de Damasco) Eliezer, seu mordomo, viesse a ser seu herdeiro. Então lhe apareceram “três homens”, “três varões” o qual um deles Abraão o trata por “meu Senhor”, e lhe fazem a promessa de que ele e Sara terão um filho. Sara chega a rir, talvez com certa ironia, pois, ao invés de olhar para a possibilidade de um milagre, ela focou o problema: a velhice de ambos, no que foi repreendida. Mas, anterior a essa promessa feita pelos anjos, Deus, em sua generosidade, por meio de uma visão, considerando a preocupação de Abraão, garantiu: “Este (o mordomo) não será o teu herdeiro; mas aquele que de ti será gerado, este será o teu herdeiro” (Gênesis 15.3).
Abraão e sua esposa Sara já estavam realmente bem velhos. Sara duvidou dessa possibilidade, por causa da avançada idade encontrava-se na menopausa. Mas Abraão creu, apesar da situação adversa.
Sara, cansada de esperar em Deus, precipitou-se e pediu a Abraão que dormisse com Agar (Hagar), sua escrava egípcia, para que por ela lhe fosse dado um filho, como era o costume. Abraão aceitou.
Uma vez grávida, Agar quis humilhar sua senhora, uma vez que esta não tinha filho, e passou a desprezá-la. Por sua vez Sara oprimiu tanto a escrava, que ela fugiu.
Agar, sem saber para onde ir, seguiu sem rumo. “E o Anjo do SENHOR a achou junto a uma fonte de água no deserto”. O anjo quis saber de onde ela vinha e para onde ia, ao ouvir a resposta, disse a ela que voltasse e se humilhasse perante sua senhora. Disse-lhe mais: “Multiplicarei sobremaneira a tua semente, não será contada, tão numerosa que será. [...] Terás um filho e chamarás o seu nome Ismael, porquanto o Senhor ouviu a tua aflição”. (Gênesis 16.7-11).
Merece destaque o fato de que não foi um simples anjo, se é que podemos classificá-los assim, mas foi o “Anjo do SENHOR”. Falou em seu próprio nome e em primeira pessoa, ‘multiplicarei’. Donde muitos especializados no assunto o identificam como sendo o próprio Deus. Outro detalhe que nos chama a atenção é por que o anjo veio: “o Senhor ouviu a tua aflição”. Os rogos chegaram a Deus, em primeira mão; não ao anjo.
O momento era de suma importância. Tratava-se de um nascimento; não era um nascimento qualquer. Naqueles tempos pessoas nasciam e morriam de forma natural, tanto quanto hoje. Era o nascimento de uma nação inteira e por trás disso estava a palavra de Deus, embora não da forma como Ele planejara. Portanto, tal incumbência não caberia a ninguém menos, de uma “patente” inferior.
A Bíblia não conta, mas é fácil deduzir: provavelmente Agar pediu perdão a Sara, sua senhora, e maravilhada contou o emocionante encontro que tivera com um anjo. Com isso foi estabelecida uma trégua entre ambas.
Ismael e o Anjo do Senhor
Os anos se passaram, Sara pôde, enfim, ter seu próprio filho, Isaque. No entanto, o garoto era zombado, por parte de Ismael, seu ‘meio’ irmão. É provável que Ismael atirava-lhe na face o fato de ser o primogênito e herdeiro de tudo, e não o contrário. Isso incomodou Sara bastante. Pela tradição não seria assim, Sara e seu filho Isaque poderiam ter sérios problemas no futuro. Sara pediu a Abraão que ‘despachasse’ a serva e seu filho.
Abraão se perturbou, mas durante a noite Deus fez-lhe uma visita, em sonho, e disse-lhe que não temesse e fizesse conforme Sara queria.
Mais uma vez lá se foi Agar, “errante pelo deserto”. Depois de andar bastante e tomarem toda a água do odre (cantil feito com couro de animal), e de não terem mais o que beber, Agar sentou-se distante do menino, pois não queria presenciar sua morte. Mas Deus ouviu a voz do menino “e bradou o Anjo de Deus e disse-lhe: “... Não temas, por que Deus ouviu a voz do rapaz [...]. ...Dele farei uma grande nação”. Pela segunda vez, as súplicas chegaram primeiro a Deus, que enviou o anjo.
A Palavra relata que Deus abriu-lhe os olhos e viu ela um poço de água. E era Deus com o moço, que cresceu, habitou no deserto e foi flecheiro (Gênesis 21.15-20).
Agar era uma mulher abençoada. Pela segunda vez o Anjo do Senhor veio ao seu encontro, que mulher afortunada! Na primeira vez, por causa do nascimento de seu filho, na segunda vez pela preservação da vida do mesmo. E ele veio “porque Deus ouviu a voz do rapaz”. Agar não procurou o anjo, mas o anjo veio ao seu encontro, por duas vezes ela encontrou-se com ele no deserto. Paulo Coelho deve ter buscado inspiração nessa personagem bíblica, e achou que bastava ir ao deserto de Mojave para encontrar o anjo “dele”.
Na tradição islâmica, os muçulmanos são filhos de Ismael, seus descendentes foram, também, divididos em doze tribos (Gn 25.16). Foram chamados de hagarenos e árabes, povos de origem semita.
Sobre Ismael profetizou o Senhor:
“...Ele será, entre os homens como um jumento selvagem; a sua mão será contra todos e a mão de todos, contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos” (Gênesis 16.7-12).
Portanto, o conflito entre judeus e palestino-árabes tem sido fruto dessa profecia, entre os descendentes de Abraão com Sara e os descendentes de Abraão com Agar.
Abraão tivera dois grandes encontros com os anjos. Quando os três homens lhe apareceram, falaram em nome do Senhor e renovaram a promessa de que ele seria pai, e de outra vez quando Abraão, posto à prova por Deus, iria sacrificar seu único filho, Isaque, como prova de fidelidade ao seu Senhor.
Anjos Divinos
Deus, como o Grande Criador, criou primeiro a terra, depois criou três formas distintas de vida: vida vegetal, vida animal e vida humana, não necessariamente nessa ordem. Como tudo ocorreu só Deus sabe. E criou anterior a tudo isso, os anjos, embora a Bíblia não minudencie. Mas sabemos que “pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles...” (Salmo 33.6), para que habitassem no céu e prestassem-lhe exaltação, louvor e contínuo serviço.
Eles obedecem às ordens de Deus, são usados como agentes da providência divina. Eles revelam aos homens a vontade divina. Como exemplo disso tem as revelações de Ezequiel, Zacarias e Daniel, bem como o livro do Apocalipse.
Eles guardam os santos (ou seja, os salvos, os separados do mundanismo, os que temem a Deus e também guardam pessoas as quais Deus tem um plano de salvação em suas vidas), preservando-os do mal (Salmo 34 e 91). Direcionados por Deus, eles protegem, confortam na opressão, livram dos inimigos e os acompanham durante a peregrinação na terra, se assim Deus o determinar.
“Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hebreus 1.14).
Algumas vezes aparecem na Bíblia os termos “Anjo”, “Anjo do Senhor”, “Anjo de Deus”, “Varão” e “Homem de Deus”, além dos que têm seus nomes identificados. Vários personagens bíblicos viram e temeram-nos.
A seita dos saduceus, nos tempos de Jesus, negava a existência dos anjos e espíritos. Muitos dos que negam a existência dos anjos consideram que os mesmos são referidos em sentido figurado.
Em numerosas passagens as Escrituras falam dos anjos como seres inteligentes e reais.
Diálogo entre os anjos
Em tendo existido um diálogo entre os anjos em que os mesmos conversem a respeito da ordem que lhes fora confiada, ordem essa que jamais será mudada, pois eles obedecem a Deus, se houver tal diálogo, não será direcionado pelas nossas orações, pedidos e desejos. Mas a Bíblia registra, sim, um anjo dando ordem a outro anjo. Creio eu, por uma questão hierárquica, o que dá a ordem, tem essa autoridade, mas não consta que foi por atender a um pedido do homem. E o subordinado, sem dialogar, contestar, obedeceu:
“E eis que saiu o anjo que falava comigo (relato do profeta Zacarias a respeito de uma visão para Jerusalém), e outro anjo lhe saiu ao encontro, e lhe disse: Corre, fala a este mancebo (jovem), dizendo: Jerusalém será habitada como as aldeias sem muro...” (Zacarias 2.1-5).
A Bíblia registra, ainda, uma ação conjunta entre anjos caídos (demoníacos) e anjos do Senhor. Um bom exemplo é a experiência do Profeta Daniel (cerca de 600 a 534 a.C.).
Daniel recebeu uma visão de grande projeção na vida de Israel. Naqueles dias ele esteve triste por três semanas, jejuou, rogou e nada recebia da parte de Deus, que o fizesse compreender a tal visão, então veio um anjo a ele e disse: “Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me...” (Daniel 10.12). Trata-se de batalhas invisíveis que são travadas na esfera espiritual a nosso favor, Deus já havia enviado a resposta a Daniel, mas a ação demoníaca, em determinada dimensão, retardou a mensagem por vinte e um dias.
Em que momento Daniel pôde, enfim, receber a visita do anjo? Quando ele resolveu “aplicar” (consagrar, direcionar seu coração), “compreender” (teve humildade para dedicar tempo ao assunto), “humilhar-se perante o seu Deus” (em oração).
Como instrumento de Deus para tão grandiosa revelação, ele teria um preço a pagar, esse sacrifício agradou a Deus, que contemplou o impedimento e enviou o anjo para guerrear contra o “príncipe do reino da Pérsia”, ou seja, contra o poder espiritual satânico naquele espaço. Entre outras coisas, presentes no culto pagão dos persas, na grande idolatria daquele povo.
Esse anjo não se sabe por que, não pôde vencer. Deus, então, utiliza o arcanjo Miguel, o tal reino das trevas é derrotado e a resposta a Daniel chega.
Há demônios poderosos designados para atuar sobre as nações do mundo, a fim de se oporem às forças de Deus e promoverem a iniquidade e a incredulidade entre os habitantes da terra, pois um dos objetivos de Satanás é que os homens não cheguem ao conhecimento pleno da verdade. Esse “príncipe da Pérsia” era um anjo satânico.
A Bíblia está falando de uma dimensão que retém nossas orações, da mesma forma, creio eu, poderá enviar respostas enganosas, para assim, continuarem no erro.
Muitas vezes ficamos ressentidos com Deus, achando que Ele não responde nossas orações, quando na verdade elas sequer chegaram a Deus, por que essa “dimensão” barrou, e, desanimados, desistimos, nesse caso é tudo o que o Maligno espera. Consequentemente, temos que insistir e persistir.
Dois anjos se empenharam nessa batalha, mas não existe diálogo entre eles, provavelmente até houve, mas não foi relatado e fica claro que o anjo só veio após Daniel orar a Deus. “Estando eu, ainda falando, e orando, e confessando o meu pecado e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus [...], ...o varão Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio voando rapidamente e tocou-me...” (Daniel 9.20,21).
O anjo Gabriel e o profeta Daniel
Nomes em hebraico terminados pela partícula “el” possuem significados relacionados a Deus.
Daniel narra em detalhes sua reação ante desse poderoso anjo:
“E ouvi uma voz de homem... a qual gritou e disse: Gabriel dá a entender a este a visão (o anjo recebe uma ordem). Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei amedrontado, e prostrei-me com o rosto em terra... Falava ele comigo quando caí sem sentido, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé...” (Daniel 8.16-18).
“... estando eu à borda do grande rio Tigre; levantei os meus olhos, e olhei, e vi... ...o seu corpo era como turquesa, e o seu rosto parecia um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés como cor de bronze... a voz das suas palavras como a voz de uma multidão. E só eu, Daniel, vi aquela visão; os homens que estavam comigo não a viram; não obstante, caiu sobre eles um grande temor, e fugiram, escondendo-se. Fiquei, pois, eu só e vi esta grande visão...” (Daniel 10.4-9).
Quanta glória de Deus nesse relato! Mas muitos acham que ver ou ouvir anjos é para qualquer um. A simples presença do anjo, dependendo de como ele se apresente, abatia as forças físicas de Daniel.
Quem era esse moço tão merecedor da visita do Anjo Gabriel?
Daniel era um jovem muito temente a Deus, de alta estirpe, um nobre de Jerusalém, pertencente ao reinado de Judá.
Em aproximadamente 607 a.C., Nabucodonosor, rei de Babilônia, império da época, sitiou Jerusalém, cidade próxima do Mar Mediterrâneo e do Mar Morto, capital do Reino do Sul, Judá. Isso havia sido predito pelo profeta Jeremias, dada à desobediência do povo.
O rei de Babilônia atacou Jerusalém. Deus consentiu Nabucodonosor conquistar a cidade e pegar alguns objetos de valor do Templo, o rei levou esses objetos e os colocou no templo de seu “deus”, um ídolo em forma de estátua. Para o povo israelita tal profanação era insuportável.
O império babilônico crescia de forma acelerada, contudo, faltava ao reino pessoas de alto nível intelectual, o rei Nabucodonosor chamou o chefe dos serviços do palácio e deu ordem para que o mesmo escolhesse alguns jovens, cativos, da família do rei e dos nobres. Todos eles deviam ter boa aparência, não ter defeito físico; deviam ser inteligentes, instruídos e serem capazes de servir no palácio. O rei ordenou também que os jovens israelitas recebessem a mesma comida dos nobres. Entre os quatro escolhidos estava Daniel. Foi lhe dado outro nome, Beltessazar, ‘Príncipe de Bel’ (o mesmo que Baal, principal deus dos babilônios). A mudança dos nomes era uma tentativa de interagir os jovens cativos à religião pagã do seu novo ambiente social, nos informa os estudiosos.
Deus deu aos quatro jovens um conhecimento profundo dos escritos e das ciências dos babilônios, mas a Daniel deu também o dom de explicar visões e sonhos.
Certa noite o rei Nabucodonosor teve um sonho, acordou perplexo, mas não sabia o que havia sonhado, porém, tinha certeza que a perturbação sentida provinha do sonho. Para saber seu significado chamou os sábios, os adivinhos, os feiticeiros, os magos e os astrólogos, para explicarem, mas ninguém conseguiu, o rei decidiu matá-los. Todos ficaram espantados e disseram:
“- Conte o senhor o sonho, e aí nós lhe daremos a interpretação. Sem o senhor contar o sonho é impossível dar o significado. Não existe quem possa atender a esse seu pedido, a não ser os deuses e eles não moram conosco aqui na terra”.
Daniel tomou conhecimento e para salvar a todos, inclusive a si próprio, pediu um tempo ao rei para que Deus lhe desse a interpretação. Ele orou e Deus deu a resposta, vindo-lhe uma visão, Daniel, feliz, louvou a Deus dizendo:
“Que o nome de Deus seja louvado para sempre! Pois dele são a sabedoria e o poder. É ele quem faz mudar os tempos e as estações... Ele explica mistérios e segredos e conhece o que está escondido na escuridão, pois com ele mora a luz”. (Daniel 2.20-22).
Daniel pediu ao chefe dos serviços do palácio, Arioque, que lhe marcasse uma audiência com o rei. Tão logo ele chegou à presença do rei, este lhe perguntou:
- “Você pode contar o meu sonho e o que ele quer dizer”?
Daniel respondeu:
- “Não há sábios, adivinhos, feiticeiros nem astrólogos que possam dar a explicação que o senhor está exigindo. Mas há um Deus no céu que explica mistérios [...]. O senhor estava deitado em sua cama e começou a pensar sobre o futuro...”
Daniel contou todo o significado do sonho (que mais tarde se realizou tal qual a interpretação). O rei ficou maravilhado e deu presentes a Daniel, além disso, o colocou como governador da província de Babilônia e o fez chefe de todos os sábios do país.
- O sonho aconteceu porque Deus quis mostrar àquela gente que o Deus de Daniel era superior aos deuses, aos ídolos deles;
- Deus permitiu que houvesse um segredo e Ele mesmo o revelou;
- Daniel não era um simples religioso. Ele orava “três vezes” ao dia, não de forma corrida, mas sistemática, “de joelhos”, com “rogos” e “jejum”, pagava um preço.
Mediante isso, o anjo o elogiou: “homem mui amado...”, “mui desejado...” (Daniel 10.11,19). Todo aquele que busca as coisas inerentes ao céu é mui amado de Deus. E o que se dizia de Daniel no reinado? “... Há no teu reino [rei Belsazar] um homem que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, inteligência e sabedoria, como a sabedoria dos deuses...”, “... Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos deuses está em ti e que a luz, e o entendimento e a excelente sabedoria se acham em ti” (Daniel 5.11,14).
Na verdade era a presença de Deus na vida de Daniel. Eles não eram monoteístas, esses pagãos achavam que Daniel tinha recebido sabedoria dos deuses, seres inanimados a quem eles adoravam; e não do Deus Vivo, que está acima de todos os deuses. Mas o povo de Israel entendia que o dom vinha do Senhor Deus.
Daniel e o anjo do livramento
Nabucodonosor morreu, Belsazar, seu filho, o sucessor, também morreu, e Dario, da Média, era quem reinava, e mais uma vez Daniel caiu nas graças desse rei, e provocou inveja. Um grupo de príncipes e presidentes, do qual Daniel fazia parte, intentaram encontrar culpa nele e disseram entre si:
“- Nunca encontraremos motivo para acusar Daniel, a não ser alguma coisa que tenha a ver com a lei do Deus dele”.
Então todos foram juntos falar com o rei Dario e pediram a ele uma determinação irrevogável. Ordenasse o rei, por decreto, que durante trinta dias ninguém fizesse pedido a deus nenhum, a estátua nenhuma ou a qualquer outro homem, a não ser ao rei Dario. Naqueles tempos havia endeusamento ao rei, como ainda há em alguns regimes totalitaristas da atualidade. Se alguém desobedecesse deveria ser jogado na cova dos leões. Talvez o rei sentiu-se envaidecido e não percebeu a cilada para o seu favorito.
Essa trama foi armada por que os tais sabiam que Daniel se punha de joelhos três vezes ao dia e orava ao seu Deus, eles podiam vê-lo, pois no quarto dele havia janelas abertas.
Mesmo sabedor do edito, Daniel foi para o seu quarto, como de costume, orar.
Depressa os invejosos foram ao rei e disseram:
“- Daniel, um dos prisioneiros que vieram da terra de Judá, não respeita o senhor (rei), nem se importa com a ordem, pois ora ao Deus dele três vezes por dia”.
O rei ficou abalado. Até o pôr do sol daquele dia, ele fez tudo para salvá-lo. Os inimigos de Daniel lembravam o tempo todo de que o rei não poderia revogar o decreto.
Então o rei permitiu que trouxessem Daniel e o jogassem na cova dos leões. O rei disse a Daniel:
“- Espero que o Deus a quem você serve, com tanta dedicação, o salve.”
Trouxeram uma pedra e com ela taparam a boca da cova.
O rei voltou para o palácio, mas não comeu nada, nem se divertiu como de costume. E naquela noite não pôde dormir.
De manhã, cedinho, ele se levantou e foi depressa à cova dos leões. Com voz triste, ele disse:
“- Daniel, servo do Deus Vivo! Será que o seu Deus, a quem você serve com tanta dedicação, conseguiu salvá-lo dos leões”?
Daniel respondeu:
“- Que o rei viva para sempre! O meu Deus mandou o seu Anjo, e este fechou a boca dos leões para que não me ferissem”.
O rei, muito alegre, pediu para tirarem Daniel da cova. Em seguida, ordenou que atirassem os acusadores. E, antes mesmo de chegarem ao fundo, os leões os atacaram e os despedaçaram.
Dario enviou cartas a todos do seu reino, explicando quão poderoso era o Deus de Daniel, esperava que eles se tornassem monoteístas.
Essa narrativa não descreve a presença do anjo, Daniel afirma que ele veio. Eu creio que Daniel não o viu, senão teria descrito. Entretanto, Daniel tinha a consciência, a fé, de que o anjo veio, e atentem para a expressão que ele usou: “o meu Deus enviou o seu Anjo”. Ele não falou: “o ‘meu’ anjo... (da guarda) veio”. Ele sabia que um anjo, sob a ordem de Deus, o livrou, o salvou. A Deus toda gratidão, todo merecimento como ele o fez colocando-O em primeiro lugar.
O anjo Gabriel e o nascimento de Cristo
No Novo Testamento a primeira referência feita a um anjo, não por acaso, o mesmo vem para anunciar dois importantes nascimentos: o de João Batista, e o daquele que nasceria para salvar nações inteiras: Jesus Cristo, o filho do Deus Altíssimo.
Cerca de cinco anos, antes do princípio da Era Cristã, um sacerdote idoso, cujo nome era Zacarias, estava no Templo quando apareceu um anjo e comunicou-lhe o nascimento de um filho.
Este filho seria cheio do Espírito Santo e iria adiante do Senhor, no espírito e poder de Elias, a fim de preparar um povo para Deus.
Alguns meses mais tarde, o anjo anunciou a uma jovem de Nazaré que, pelo poder do Altíssimo, ela daria à luz a um filho cujo nome haveria de ser Jesus, o Filho de Deus. “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus, a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré...” (Lucas 1.26).
José, homem justo, ao tomar conhecimento da gravidez de sua noiva, resolveu deixá-la em segredo, mas apareceu-lhe o “Anjo do Senhor” e o aconselhou a receber sua mulher e explicou-lhe o intento divino que envolvia a criança. E disse-lhe o anjo: “Ela dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus (Salvador)”.
Esse mesmo anjo, anunciador do nascimento de Cristo, revelou essa vinda ao Profeta Daniel, quando lhe falou sobre o mistério de um tempo que duraria ‘setenta semanas’: “Sabe e entende: Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe...” (Daniel 9.25).
Depois de anunciar o nascimento de Jesus a seus pais, o anjo anunciou, também, esse mesmo nascimento aos pastores, eles se encontravam na comarca de Belém. Esse anjo não veio sozinho ele estava acompanhado por uma “multidão da milícia celestial”, os “exércitos celestiais”.
Em outra ocasião o Anjo do Senhor apareceu a José em sonho e deu orientação para que fugisse para o Egito, pois Herodes haveria de procurar o menino para matá-lo. Morto Herodes, o anjo determinou que José voltasse com sua família para a terra de Israel.
O anjo responsável pela missão de anunciar o nascimento de Cristo é identificado pelo apóstolo Mateus como o “Anjo do Senhor”, já Lucas, pelo relato de Zacarias, declara ser o anjo Gabriel, “assistente direto de Deus”, portanto, detentor de uma patente elevadíssima.
Os anjos seguiram Jesus por toda a sua vida e tinham motivos para isso: foram enviados por Deus para resguardar a preciosa vida daquele a quem Deus usaria de forma tremenda para um plano extraordinário de beneficência, espiritual, às nações. Fazia-se necessário, pois Satanás usaria de todos os meios para frustrar os desígnios do Senhor.
Em todos os momentos cruciais da vida de Cristo os anjos estiveram presentes: no nascimento, na infância, e no período da tentação, logo após Jesus vencer o diabo, vieram os anjos e o serviram. Também apareceu na ressurreição e removeu a pedra do sepulcro. A narrativa bíblica descreve seu aspecto como um relâmpago e sua veste branca como a neve.
Além de divulgar o nascimento de Ismael e Isaque, filhos de Abraão, e os nascimentos de Jesus e João Batista, foi anunciado também, por um anjo, o nascimento de Sansão.
Os anjos sempre foram alvo de interesse e curiosidade de todos. Por serem seres celestes eles despertam fantasias sobrenaturais, com isso são vastas as abordagens e definições sobre os mesmos. Mas, sobre certas curiosidades, interrogações profundas e metafísicas, a Bíblia nos alerta, por meio da pessoa de Jesus Cristo:
“Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade” (Atos 1.7).
Não nos compete saber “tempos”, “épocas” ou situações que não são manifestas. Ao insistirmos estaremos incorrendo no erro da desobediência, estaremos indo por um caminho muito perigoso. O resultado final será a confusão de ideias e desvarios. Porque a nós só nos pertencem os mistérios revelados por Deus, ou o que o estudo é capaz de nos dar, aquilo que nossa inteligência alcança, no campo espiritual. As demais “coisas que estão encobertas, pertencem ao Senhor nosso Deus”, como nos alerta Deuteronômio 29.29; sejam elas “da luz ou das trevas”. (Daniel 2.22).
Por mais que nos aprofundemos não chegaremos a um ponto satisfatório e real, pois, Deus “ao homem colocou limites além dos quais não passará”. (Jó 14.5). E mais: “Por ventura desvendarás os arcanos (os mistérios, os segredos) de Deus, ou penetrarás até a perfeição do Todo Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria, que poderias fazer? Mais profunda do que o abismo, que poderás saber?” (Jó 11.7,8).
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”. (João 16.12).
“Suportar agora”. Assim falou Jesus. Esse é o perigo de um aprofundamento em coisas espirituais das quais não entendemos. Estão ocultas e não nos trarão mudanças significativas, caso insistamos em tomar conhecimento. Melhor é ficarmos com o que está ao alcance de nossa compreensão e usar, acima de tudo, a fé como justificativa para as que não estão. Isso não impede que busquemos o conhecimento ou que mergulhemos na metafísica, desde que não cometamos heresia.
Ademais, “o que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano é o que Deus tem reservado para aqueles que o amam” (I Coríntios 2.9), afirma o apóstolo Paulo. Por que sondar o insondável? Só se for para se encher mesmo de delírios, caso de muitos escritores que discorrem sobre o tema angelical.
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BÍBLIA de Estudo Pentecostal – AT e NT. Referências e Algumas Variantes. Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo, CPAD/SBB, 1995.
BÍBLIA Sagrada (Eletrônica, AT e NT). Europa Multimídia. Programação: Leandro Calçada, Ilustração: Wilson Roberto Jr. Colaboração: Thélos Associação Cultural.
Vide tópico 56 - Referências Bibliográficas