Um Batista no MMA.
Começo da década de oitenta foi uma época maravilhosa em minha vida, tive a oportunidade de melhor conhecer Mossoró e passei a morar lá com minha tia Maria Batista. Foi um ano muito produtivo. Eu nasci no interior do Rio Grande do Norte, mas Mossoró é minha cidade natal por adoção. Nesse lugar eu obtive meu primeiro emprego, e foi lá que eu também me apaixonei, duplamente, tanto por alguém, que não me correspondia, sofri com isso um grande “nocaute”, bem como pela cidade. Mais ainda por Tibau, cidade litorânea, distante 40 km de Mossoró. Quase todo final de semana era reservado para, em aquelas belas praias, espairecer. Foi aí que tomei conhecimento de uma família nossa, "Batista", residente em Tibau. Consegui aproximar-me e fiz boa amizade com meu primo, em primeiro grau, Júnior, e a esposa dele, Luzia, que gentilmente me convidaram para passar um final de semana. Foi muito bom. Pela primeira vez eu pude estar tão próximo do mar. Era um casal humilde, mas muito gentil e atencioso. A casa deles era de taipa. Muito simples. Porém fui muito bem recebida.
Depois retornei para morar em Petrolina, contudo, sempre voltava a Mossoró nos finais de ano, e quando isso acontecia não podia deixar de ir até a encantadora Tibau e, imprescindivelmente, visitava meu primo e sua esposa, que já não moravam naquela simplória casa de sapé, mas estavam residindo em uma bela casa de alvenaria, cercada de alpendre, situada no centro de Tibau. Só aí tomei conhecimento do filho famoso do casal, atleta esportivo que morava nos Estados Unidos. Eles eram muito satisfeitos com o rumo de vida que tomou esse seu filho, vindo inclusive a beneficiar seus pais com esta casa. Luzia falava com orgulho de como a pequena cidade parava para assistir, via telão, uma luta de seu filho.
Janigleison Herculano Alves, filho de Luzia (in memoriam) e Jonas Batista Alves, nascido em Pedro Velho, interior do Rio Grande do Norte, lutador de Artes Marciais Mistas, AMM, (do inglês, Mixed Martial Arts, "MMA"). Modalidade de esporte de combate que inclui tanto golpes efetuados em pé, quanto técnicas de lutas no chão), conhecido simplesmente como Gleison Tibau, neto de Francisca Batista e bisneto de Joaquim Batista.
Aos 12 anos já era fã de grandes lutadores do cinema, acompanhados pela TV. Em uma dessas lutas ficou muito impressionado. Era admirável ver a forma como os lutadores saíam vitoriosos. Impactado, decidiu que queria ser também um lutador, não apenas na vida, como já o fazia, mas nos tatames mundo afora. Nessa época, segundo afirma o próprio Gleison em entrevista, pouco se sabia a respeito dessas lutas, de certas modalidades, tanto que menearam a cabeça à ideia dele, zombaram de seus sonhos considerados inatingíveis. No entanto, ele tomou isso como um grande desafio. Agora que tinha expressado para muitos seu desejo, não sabia por onde começar para torná-lo realidade. Como fazer, se na pequena Tibau isso era inacessível?
Resolveu procurar meios em Mossoró, considerada a "cidade grande", lá encontrou uma academia. Ele já fazia esse percurso por meio do ônibus escolar, o que lhe dava certa economia com as despesas de passagens. Nessa primeira academia, aos 13 anos, ele começou a treinar MMA.
Aos 15 anos teve sua primeira luta profissional em Mossoró. Por incentivo do treinador saiu de Tibau e foi morar na academia, onde passou a residir maior parte de sua adolescência. Seu grande sonho era se tornar um grande lutador, um campeão, embora sem patrocinador. Por conta disso passou muitas dificuldades, inclusive para se alimentar bem. Haja vista a desvalorização do esporte na época, considerado, até, violento e que não gerava renda, e ele, por ser de família humilde, não recebia sustento de familiares. Mas a vontade de ser um campeão era sua mola propulsora. Depois de algumas lutas em Mossoró, chegou a oportunidade de lutar em Natal, RN, a partir daí outras lutas surgiram em várias capitais do Nordeste e seu desempenho se destacou.
Mudou-se para o Rio de Janeiro. Depois de algumas lutas, aos 19 anos, chegou o momento para a grande luta internacional, ocorrida no Japão. Essa luta abriu-lhe muitas portas. Ótimas oportunidades surgiram e ele passou a lutar na Europa, em grandes eventos, melhorando, em muito, a sua condição financeira, e ele atingiu a categoria de melhor do Brasil, em sua modalidade.
O Brasil ficou pequeno para esse lutador. Então veio o convite para fazer parte de uma equipe americana (American Top Team). Para o dirigente dessa equipe ele contou que seu sonho era "explodir para o mundo".
Nos Estados Unidos, após um mês de treinamento, veio a informação de que ele seria integrante da equipe de UFC (Ultimate Fighting Championship), deixando-o deslumbrado, no bom sentido, com a realização do seu sonho. Ele passou, então, a morar em Miami, voltando ao Brasil uma vez por ano.
Considera a luta de MMA muito empolgante e versátil, em termos de variedade de artes marciais. Analisa também que o momento atual é muito propício para essa modalidade esportiva, uma vez que esse esporte tem sido muito bem divulgado pela imprensa e é bem patrocinado. Sendo assim, está bem mais fácil de o jovem, de classe social menos favorecida, ingressar, uma vez que o Brasil tem proporcionado muitos eventos e tem academias bem estruturadas. Bem diferente de sua época.
Um dos momentos mais difíceis da carreira, segundo ele, é o momento em que precisa perder peso. Em 2013 foi necessário eliminar 15Kg. Nessa fase chega-se ao extremo de suprimir grande parte do consumo de água. Alguns dos sintomas são: lentidão cerebral e perda de energia. É preciso muita força de vontade, segundo ele próprio.
Nessa trajetória ele perdeu para si próprio ao lesionar-se em 2014, o que o levou a ser afastado de uma importante luta em Natal, RN. Em 2015 ele foi suspenso, por dois anos, pela organização UFC, por ter violado a política antidoping. Tibau publicou uma carta onde se dizia inocente e demonstrava que iria recorrer ao corpo médico para descobrir se isso realmente se deu e de que forma. Depois, em outro momento, ele admitiu que usou uma substância para melhorar a saúde e que foi "burrice" não ter comunicado aos seus treinadores, para receber orientação dos mesmos.
As notícias mais recentes desse Batista dão conta de sua vitória contra Will Brooks, em Julho de 2019, em Macau, China. Em janeiro de 2020 ele vence o atleta Hermes França em sua própria cidade, na somatória de pontos, depois de, nas palavras dele, "um duelo difícil".
Esse esporte proporcionar-lhe muitas viagens bem como a possibilidade de morar nos Estados Unidos, mas a melhor sensação é quando ele retorna ao Brasil e põe os pés na amada terrinha Tibau, costuma afirmar.
Gleison segue cumprindo sua missão, dando asas aos seus sonhos. Agora, em 2020, foi divulgado que seu nome poderá ser eternizado na história do UFC como o brasileiro, peso leve, com maior número de lutas na organização. Ele está com 37 anos (2020).
"Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo". Carlos Drummond de Andrade.
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